quarta-feira, 9 de março de 2011

Cinzas, Silêncio e Solidão



A nossa vida é um carnaval
A gente brinca escondendo a dor
E a fantasia do meu ideal
É você, meu amor

Sopraram cinzas no meu coração
Tocou silêncio em todos clarins
Caiu a máscara da ilusão
Dos Pierrots e Arlequins

Essa marchinha famosa – Turbilhão – talvez você não saiba, é de autoria de Moacyr Franco. Dela transcrevi apenas uma parte, a que melhor expressa o que penso em relação à festa de Momo.

Hoje é quarta feira de cinzas, e com ela o carnaval termina. Foram dias maravilhosos, de alegria, euforia, emoção, festa, encontros e felicidade. A grande maioria da população brasileira esperou o ano inteiro para poder “celebrá-la”. Aliás, dizem os especialistas, nosso país só começa mesmo a “funcionar” depois das festividades.

De fato, como na marchinha do Moacyr, a vida do brasileiro é um carnaval. Mas diferentemente das frases utópicas citadas acima, a festa se presta apenas a esconder a dor. Na verdade, não só ela, mas também o desespero, a angústia, o medo, a solidão, a falta de ideal, o esvaziamento do ser, o abandono da alma. Cinco dias de “folia” para extravasar tudo aquilo que se acumulou na consciência e tornou-se entulho no coração durante um ano inteiro. Convenhamos, é pouco...

Mas vamos celebrar! E celebraremos o que? Eu não sei... Talvez as adolescentes totalmente embriagadas, vomitadas de cerveja, jogadas num canto das ladeiras de Olinda ou abandonadas no fundo do salão de um clube qualquer. Garotas sem pais, sem família, sem amigos, sem perspectivas, sem sonhos, usadas como diversão nas mãos de gente matreira, pedaços de carne para se apalpar, beijar, lamber, saborear, transar... Depois vem a realidade crua e fria: descarta, joga no lixo, ninguém é de ninguém.

Quem sabe celebramos a vida dos garotos que consomem lança perfume, cocaína, maconha, crack e bebida alcoólica para ficar “ligados”, “espertos”, fazer “bonito” diante dos amigos. Aí vem aquela doideira, o estado propício para dar uma garrafada em alguém, para juntar um bando e começar uma briga, desferir golpes que destroem faces, roubam sonhos, ceifam vidas. 

Talvez estejamos a celebrar o beijo vulgarizado, a futilidade elevada à enésima potência, a vaidade alçada ao platô mais alto, a sensualidade derramada como perfume barato, à vulgaridade posta como alto estilo, o ser humano transformado em “besta”, animal não racional, ou como bem disse o Alceu Valença: “bicho maluco beleza”!  

Não seja tímido! Ainda há muito mais a se celebrar... Não esqueçamos o sexo descompromissado, as orgias, o "amor" feito nos motéis, com dois, com três, com vários. E ainda tem os bailes, sexo ao vivo, ali mesmo no salão, ou a “pegação” dentro do carro, no meio da rua, no canto do muro, detrás do matagal. Vale tudo! E vale mesmo! Ultrapassa até a letra do Tim Maia, que dizia que “só não vale dançar homem com homem e nem mulher com mulher”. No carnaval, pode homem com homem, mulher com mulher, travesti, transexual, bissexual, é sexo “livre, leve, solto”. O importante é ter prazer, não importa como, nem muito menos com quem.  

Celebremos também as mortes! Por que não? Morte por assalto, por estupro, por briga de bar, por briga de rua, por causa de mulher, por causa de homem, por causa de nada! Celebremos as mortes dos que sofreram overdose, dos que entraram em coma alcoólica e se foram, dos que pegaram seus carros, dirigiram velozmente, atropelaram transeuntes, mataram inocentes, chocaram-se com alguma árvore, ou com um poste qualquer. Ali deixaram esvair suas vidas: tenras, frívolas, fúteis... E o que vem em seguida? Apenas horror: o IML recolhendo corpos e os pais chorando na calçada e dizendo: “onde foi que eu errei”... Não esqueçamos ainda da legião de anônimos que se matou por causa da angústia, da solidão, da falta de paz, da falta de "chão".

Hoje é quarta feira, os clarins irão se calar, a máscara da ilusão vai cair, a vida vai nos chamar de volta a realidade, nossa consciência talvez acorde do sono profundo no qual mergulhou nestes dias. Sim, amanhã nos depararemos com o saldo na “conta”, a dor no peito, o vazio na alma, a ressaca moral, espiritual, emocional, a sensação de que nos coisificamos, perdemos nossa essência, nossa solução interior, nossa inteireza, nosso ser.

Aí talvez alguém diga: socorro! Fomos assaltados! Roubaram nossa alegria, nossa felicidade! Fomos arrastados pela multidão – não só dos blocos – mas pelo “sistema”, nos tornamos massa de manobra, sujeitamo-nos ao que não somos, experimentamos o que abominamos, curtimos o que nos dá náusea, achamos bonito o que é feio, chamamos de alegria o que produz morte e dor.

Mas saiba, alguém lucrou muito com isto! Você tem alguma idéia quem foi? Além do mais,  não se engane, na festa de Momo, há uma enorme indústria lucrando por trás de cada manisfestação, seja a que acontece nos palcos, nos trios, nos blocos, nos salões ou nos desfiles. Eles sempre ganham, você sempre perde...         
Finalizo com outra marchinha de carnaval. Esta é do Luis Bandeira, tão famosa quanto à primeira, também não menos real. Lamento informar, mas restaram apenas cinzas, silêncio e solidão. Os confetes ficaram no salão, vão para o lixo mais tarde...

É de fazer chorar
quando o dia amanhece
e obriga o frevo acabar
ó quarta-feira ingrata
chega tão depressa
só pra contrariar

Com respeito a quem gosta do carnaval, sinceramente, espero que tenha valido a pena... Mas posso lhe afirmar, com absoluta certeza, não valeu não...


7 comentários:

  1. Vamos celebrar a alegria de termos Jesus em nossas vidas.
    Vamos celebrar a certeza de que se seguirmos seus ensinamentos seremos salvos no final.
    Vamos celebrar a oportunidade de ganhar algumas pessoas para a verdade verdadeira.
    Vamos celebrar a gratidão que devemos ter em nossos corações!
    Afinal, todo o resto é balela!
    Vamos celebrar a vida! E a vida não precisa de carnaval para ser vivida com alegria e felicidade no coração!
    Afinal, todo o resto é balela!

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  2. ME LEMBREI DE UM COMENTÁRIO DO CANTOR LOBÃO, SIM, AQUELE POLÊMICO, MAS DE VEZ EMQUANDO ELE DÁ UMA DENTRO, CERTA VEZ ELE DISSE: "O BRASILEIRO É O ÚNICO POVO QUE COME COCÔ E BRINCA CARNAVAL." SOU OBRIGADO A CONCORDAR COM ELE.

    O TEXTO ACIMA DIZ TUDO, E MUITO OPORTUNO O COMENTÁRIO DO MEU AMIGÃO ANDRÉ MANSIM...

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  3. É isso aí, o negócio é saber viver a vida!!!!


    http://vivaiona.blogspot.com/

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  4. carnaval..festa dos alienados,dos nao pensantes,festa da imoralidade,festa da depravaçao..isso é a propria politica do pao e do circo...isso é so uma forma de distrair o povo para que nao se revolte contra o sistema fracassado que nao consegue sanar a fome,o saneamento basico,as politicas publicas,a empregabilidade,entre outros.
    carnaval...tudo pode..homem vestir-se de mulher e mulher vestir-se de homem e tá tudo em casa,as trocas de papeis pois é so uma forma de divertimento e isso nao os faz pensar que seja "vergonha" ja que a uniao faz a força e a alegria..e a sociedade nao pode reprovar tamanha atitude,pois como dizem...é carnaval!
    so sei de uma coisa,muitos sao instigados nesse periodo pra tornar o errado,certo..e fica por isso mesmo..carnaval festa da imundicia.
    michel cheng

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  5. Também não gosto do carnaval. Pra mim, é só uma desculpa pra sair pelado por aew ou beber quatro dias seguidos sem se importar com nada. =p

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  6. Cheng, como eu disse aquele texto lá no blog é de um e-mail que recebi, e eu já vi ele em alguns blogs, então amigão acho que o negócio é publica-lo mais e mais!!

    Um abraço!

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  7. Olá, graça e paz!!
    Vim desejar uma semana maravilhosa a ti, que o amado Deus te abençõe sobremaneira...Que não lhe falte paz..
    Abraços
    Lu Siqueira.

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