segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Cocaina religiosa


A religião de hoje procura excitar e produzir sensações de poder parecidas com a da cocaína.

As igrejas neopentecostais se multiplicam prometendo que as pessoas têm o direito de ser felizes aqui e agora. Repetem exaustivamente que ninguém precisa transferir para a eternidade o que pode ser reivindicado já. Insistem na promessa feita a Israel de que o fiel é "cabeça e não cauda". E assim o crente que freqüenta os cultos da prosperidade recebe semanalmente uma injeção de cocaína espiritual no sangue, fazendo que se sinta o dono do mundo. Mesmo que por apenas alguns minutos de culto, sonha com tudo o que os seus olhos gulosos viram as empresas de marketing anunciar na televisão.




As igrejas se transformam em ilhas da fantasia capitalista. Empresários falidos, artistas em fim de carreira, jogadores de futebol malsucedidos, empregados sem qualificação correm para as infindáveis campanhas em busca de reverter a pretensa "maldição" que paira sobre suas vidas.

A própria definição do que é fé vem sofrendo enormes mudanças. Antigamente entendia-se fé como uma adesão a um conceito teológico ou mesmo como uma habilidade sensitiva de perceber o mundo espiritual. Pessoas de fé discerniam as ações de Deus e do mundo espiritual com maior acuidade. Eram pessoas que confiavam no caráter de Deus, mesmo sem evidências que comprovassem sua palavra. Hoje se entende fé como uma mera capacidade de instrumentalizar os poderes de Deus egoisticamente. Por isso, fé e cocaína se parecem muito; dão uma falsa sensação de poder e geram pessoas artificialmente soberbas. Mas a ressaca tanto da cocaína como da fé pós-moderna é horrível, pois vem sempre acompanhada de depressão e desengano.

O tóxico religioso de hoje é sempre estimulante. Por isso os novos mercadejadores da fé precisaram redefinir, inclusive, a pessoa de Deus. A divindade pós-moderna só existe para servir os caprichos das pessoas. Os cultos se transformaram em centros de aperfeiçoamento e aprimoramento humano. As igrejas deixaram de ser espaços para se cultuar a divindade, especializaram-se em ensinar como manipular Deus. As liturgias espiritualizam as técnicas mais populares de como "liberar o poder de Deus", "afastar encostos", "tomar posse dos direitos", "conquistar gigantes". As pessoas se aproximam de Deus cheias de direitos, vontades, acreditando que são o centro do universo e que tudo e todos lhes devem obrigações. Perde-se o estado de "maravilhamento", reverência e submissão ao Eterno.

Assim o propósito de toda atividade religiosa é homocêntrica, nunca teocêntrica. As igrejas acabam se transformando em balcões de serviços religiosos e a relação do pastor com os fiéis é a mesma do empresário com o cliente.

Jesus Cristo não prometeu um celeste porvir que anestesiava. Seus discípulos foram convocados a ser o sal da terra, levedar a massa, enfrentar os reis poderosos, transformar a realidade aqui e agora. Antes que se levante o sol da justiça e que o Senhor volte trazendo salvação sob suas asas, Ele comissionou sua igreja a enfrentar as estruturas humanas que produzem a morte e declarar guerra ao próprio inferno. Não prometeu que nos tornaríamos os donos do mundo, ricos e prósperos.

O culto não deveria ser diminuído e transformado em um centro de auto-ajuda. Não precisamos aprender técnicas que nos ajudem a obter o favor de Deus. Precisamos, sim, aprender a celebrar o seu grande amor de Pai que nos quer bem, apesar de nossa própria pequenez.

Acredito que Marx estava certo quando denunciou o que acontecia com a igreja que se colocava a serviço das aristocracias. Aquela religião adoecida e morta realmente merecia a pecha de ópio do povo. Os líderes religiosos que comiam nas mesas dos poderosos e que desdenhavam da sorte dos miseráveis realmente buscavam entorpecer o povo.

O que se oferece de muitos púlpitos pós-modernos não é o evangelho de Jesus Cristo, mas mera cocaína religiosa. E se algum outro filósofo ateu afirmar que essa religião pragmática que se espalha no Ocidente combina com o narcótico da moda, também seremos obrigados a concordar. Já se ouve o murmúrio das pedras. Urge que os profetas comecem a falar.

Soli Deo Gloria
Texto do Pr. Ricardo Gondim

Paulo Cheng

14 comentários:

  1. Muito oportuno esse texto.

    Estava conversando esses dias com minha irmã e mãe, falando que 90% dos seres humanos precisam de um vício. Normalmente largamos um pra se agarrar em outro, mesmo que esse outro seja lícito. Um exemplo, conheço gente que largou o alcoolismo e agora bebe café alucinadamente. Ou meu vizinho, parou de jogar e começou a fumar. E digo isso, porque a religião não deixa de ser um vício para muitos. Não vou entrar no mérito se é bom ou ruim, só digo que há muita gente que se vicia em filosofias e religiões e bitola, vira fanático e perde a noção do que ocorre a sua volta, assim como qualquer viciado.

    Bom texto o do pastor.

    Abss!

    “The Tramp Mind”
    Site Oficial: JimCarbonera.com
    Rascunhos: PalavraVadia.blogspot.com

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  2. Paulo, tudo bem?
    Texto muito bom, onde tudo se resume num mero objeto de satisfação, seja a fé-mercado; como qualquer outro vício. Muito perigoso isso, quando as coisas passam pela automatização dos desejos simplesmente, e tudo vira vício e fanatismo.
    Um abração para ti!

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  3. Chengão meu irmãozim marélim! Tudo bem?

    Rapaz, que texto bom hein! Parabens ao Pr Ricardo, muito lúcido e verdadeiro!
    Você escolheu bem esse texto. Muito bom de verdade!

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  4. Macedo da Silva, Natal, RN.

    O que Karl Max falou e foi muito mal interpretado se resume no texto supra citado, quando a religião tem como objetivo entorpecer a mente e anestesiá-la da realidade, isso sim se torna ópio, droga para fugir da realidade, gostei muito do texto, o pr. Ricardo é um homem sensato e profundo.

    Um grande abraço.

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  5. As criancinhas do texto do papai Noel são puras ainda e acreditam na magia do natal... Assim você me entristece seu coração duro! Vai ver que você sempre foi um mal menino!

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  6. Parece mentira, mas quando vi um templo de uma dessas novas igrejas neo-pentecostais (nem preciso dizer qual, né?), lotado, numa cidadezinha medieval no interior de Portugal, eu pensei... "o mundo tá perdido, mesmo..."

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  7. Hahahahhahahahahahaha ei não era pra apagar lá o comentario não, hahahahahhahahaha eu tava brincando!

    Me perdoe!

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  8. Nossa... perfeita esta postagem! É exatamente o que eu penso. Hj está tudo muito voltado para a prosperidade, esquecendo-se que a intimidade com Deus vai muito além do bolso!
    Parabéns!! Recomendei esta postagem na pg do blog no Facebook e na minha pag pessoal. Vale a pena o povo ler!!
    Passa lá no blog, tem postagem nova!
    BeijO*-*
    evesimplesassim.blogspot.com

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  9. Fala meu amigo, tudo bem?

    Cara, mais um texto corajoso e direto do Gondim. Não é por acaso que muitos de seus colegas pastores não querem vê-lo nem pintado a ouro, porque ele é um dos poucos pastores que tem independência e coerência de criticar vertentes neopentescostais. Os outros temem o enorme poder político que estes pastores estão conseguindo reunir no Brasil e se calam.

    O fato de citar Karl Marx, embora em discorde em parte de sua interpretação, só mostra o quanto ele é indepentente, sem medo e sem preconceitos. Um grande sujeito esse pastor.

    Grande abraço!

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  10. Eu lamento muito ver como as pessoas se mostram ingênuas diante do que estamos vendo. Esses líderes religiosos, que viraram estrelas, celebridades da fé, moram em grandes mansões nos melhores bairros das grandes cidades enquanto o povo vive na precariedade do dia-a-dia. Poderá parecer absurdo o que digo agora, mas chegará o tempo em que aqueles que conseguirem enxergar o que se esconde por trás disso, deixará de frequentar templos e fará sua igreja dentro de sua consciência para continuar cultuando sua fé, aliás, na pratica muitos já fazem assim, e há muito tempo.

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  11. Paulo, meu amigo!
    Vim rapidinho só para dizer que adorei saber como você conheceu o Supertramp!
    Por aqui, um temporalzão se prepara e faltou luz, agorinha mesmo, antes que a bateria vá embora, ... fui!
    Abração!

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  12. O pior é que os viciados se multiplicam, a tal teologia da prosperidade transverte os valores cristãos reais. Pequenos textos interpretados erroneamente do primeiro testamento, fazem a alegria do joio. Lutemos contra isso querido irmão !

    Abraço Cheng !

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  13. Oi, Paulo, eu sou contra qualquer tipo de fanatismo, se temos a nossa *fé, já faz um bem imenso; teu texto é perfeito e esse assunto rendeee...
    Beijos* e logo voltarei a escrever, tá confuso pra mim esse fim de ano.
    Mery*))

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  14. Olha, eu só sou contra generalizar, acho que não devemos dizer que "todas as igrejas não prestam", pois isso não é verdade, existem igrejas sérias sim, e que desenvolvem trabalhos sociais e evangelísticos nas comunidades e em muitos outros lugares levando a mensagem de fé aos que mais precisam.

    É engraçado como muita gente, até mesmo quem está dentro da igreja, cria um tempo para criticar, pois quando se faz algo de bom, de positivo, nunca se acha alguém para elogiar. Na minha concepção, só o fato das igrejas acenderem uma luz de esperança, por menor que seja, já é o suficiente.

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