quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Eterno inconformismo.


Vidas Secas
Há pouco tempo assisti em casa um clássico do cinema nacional, Vidas Secas, do mestre Graciliano Ramos. Já tinha lido o livro e assistido ao filme. Além deste filme, comprei também outros clássicos como Deus e o diabo na terra do sol (Glauber Rocha), Guerra de Canudos (Sérgio Resende) e O Pagador de Promessas (Dias Gomes).


Vidas Secas é uma história que conta a vida de uma família nordestina que perambula pelo Sertão, passando toda sorte de privações, sendo vítimas do descaso e da seca, vivendo uma vida sofrida onde personificam a sina de milhões de nordestinos que são esquecidos pelo poder público e que estão fadados a uma vida sem confortos, privilégios, educação, trabalho digno, diversão e inclusão social. Por incrível que pareça, ainda há famílias em alguns sertões nordestinos na mesma situação de Fabiano, sua mulher e filhos e a cachorra baleia.

Graças a Deus não passamos o mesmo infortúnio que afligiu a Fabiano e sua família, mas por estarmos fartos e bem abastados, nos damos ao luxo de reclamarmos e murmurarmos com as mínimas coisas que nos acontecem.

Somos especialistas em reclamar, nunca estamos satisfeitos com o que já possuímos, murmuramos  porque não temos um celular de 5.0 MP, reclamamos porque o nosso guarda-roupas está ultrapassado e não podemos renová-lo, praguejamos pelo fato de a fila do cinema estar andando lentamente ou ainda porque os nossos Big Macs estão demorando.

Gostaria neste post de discorrer sobre o filme, mas como é uma triste e reflexiva história, foi inevitável fazer uma correlação com algumas de nossas atitudes que frequentemente tomamos, até consciente.

Vidas Secas é uma obra-prima da literatura brasileira, mas que nos apresenta uma realidade que, mesmo distante de nós, suscita uma reflexão interior e nos faz enxergar que somos abençoados e fartos e que não devemos agir mesquinhamente no que diz respeito as necessidades que, muitas vezes, insistimos que temos e que são frutos de uma vida vazia e influenciada pelo estilo de vida superficial e efêmero de nossas sociedades. A Bíblia Sagrada diz em Eclesiastes 7.2 Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração.” Ou seja, em um funeral refletimos profundamente sobre os verdadeiros valores da vida, não que tenhamos que viver enfiados em velórios, num clima mórbido, mas que, de vez em quando, situações tristes onde nos levam a refletir sobre a essência da vida são sempre bem vindas.

Quando visitamos alguém em um hospital e vemos que outros estão ali privados de sua liberdade, de sua saúde, e muitos em situação terminal, isso nos faz agradecer a Deus pela nossa saúde, quando vemos nas ruas mendigos perambulando e revirando lixos para saciar a fome, passamos a agradecer a cada refeição que fazemos em nossos lares.


Paulo Cheng

17 comentários:

  1. Temos que aprender a ver o que temos, valorizando.Há que nada tenha...Há quem dores sofre... Aí deixaremos de reclamar... abração,chica

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    1. Chica, realmente temos que nos colocar no lugar do outro, quando pensamos que estamos sofrendo, só é olhar ao redor que haverá gente em pior situação do que a gente.

      Com certeza pedalar faz um bem danado pra saúde.

      Abração.

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  3. Paulo é com grande satisfação que comento hoje em seu blog, e por uma razão especial, o filme que o amigo cita, "Vidas Secas, desse genial Graciliano Ramos, foi o filme nacional que mais me provocou emoção em toda minha vida. Quando assisti ao filme, eu era apenas um jovem estudante, que justamente dentro de um ambiente escolar, assistia a essa produção pela primeira vez. Essa é uma obra-prima da nossa literatura que também se tornou rica na linguagem cinematográfica. Parabéns pelo post.

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    1. Grande Paulo, esse é um dos filmes prediletos meu, um baita clássico, mas com uma mensagem profunda, que nos leva a uma reflexão sobre valores intrínsecos para a humanidade.

      Abç.

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  4. Amiguinho, irmãozinho marélinho! Tudo bem?

    Rapaz, deve ser triste demais viver no sertão! Deve ser triste demais não ter um copo d'agua pra matar a sede.
    Seu texto apesar das idas e vndas, foi muito bom! Engraçado que no finalzinho vc falou justamente do assunto da minha nova postagem!

    legal! Sinal de que estamos antenados!

    Bom final de semana!

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    1. Mansim, dei uma passada lá no teu blog e realmente os textos estão bem semelhantes, acho que é algum tipo de telepatia blogosférica.

      Abraço amigão.

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  5. Fala Paulo,

    Faz parte da nossa espécie uma certa dose de egoísmo e de vaidade, a ponto de pensarmos que o nosso umbigo é o centro do Universo.

    Felizmente muitas pessoas conseguem escapar dessa característica, solidarizando-se com os sofrimentos alheios.

    Essa coisa da seca e do descaso no Nordeste é um dos maiores crimes que o país comete contra seus irmãos nordestinos, por pura omissão. Nem Lula, que fez bastante pelo nordeste, vamos reconhecer, foi capaz de ir fundo e atacar o problema na raiz, acabando com os privilégios de certas familias tradicionais que exploram os mais necessitados.

    Um grande abraço.

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    1. Acho que essa situação é algo que nunca vai acabar, infelizmente, pois pessoas enriquecem com a miséria e a pobreza extrema de outras, e em nosso Brasil, que é terra sem lei, isso vai perdurar por tempo indefinido. Mas se o pouco que fizermos mudar a vida de uma pessoa que seja, já terá valido à pena.

      Abração pra ti mano.

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  6. Olá, querido Cheng!

    Graciliano é o grande narrador dos fatos brasileiros e dos próprios fatos que assolaram a vida dele. Tive a oportunidade, faz muito tempo, de ler Memórias do Cárcere.
    Eu vivo no Nordeste, talvez, a parte mais "norte" dele - o Maranhão. Há vários e vários sertões, convivi por muito tempo com pessoas, parentes que moravam neles, meus próprio pai foi criado em um. Mas diferentemente dos que permeiam o sertão do Ceará, Pernambuco e mais alguns, no Maranhão o problema não é nem a água e sim a pobreza extrema, falta de educação e fome que afligem os interiores.

    T.S. Frank
    www.cafequenteesherlock.blogspot.com

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    1. Fala Frank, ainda não li "Memórias do Cárcere", mas deve ser excelente, e assim como você, eu moro no Nordeste também, Pernambuco, e ainda hoje, em pleno século 21, a situação pelos sertões ainda é a mesma, muito descaso, pobreza, falta de assistência pelo poder público, e gerações de pessoas sem expectativa de uma mudança de vida para melhor. Infelizmente é a nossa sociedade.

      Um grande abraço.

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  7. Oi Paulo!
    Nossa...
    Já estava interessado em ler Vidas Secas, depois de ver esse texto, me deu mais vontade de ler ainda...
    Mas tudo que você disse é a mais pura verdade.
    Temos que agradecer pelo que temos, mesmo que não seja muito, pelo menos temos.

    Abração!

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    1. Olá Duda, como estais? Olha, comece agora a leitura, é uma obra maravilhosa, você vai gostar bastante, e tem outras dele, mas comece por esta, ok?

      Abração.

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  8. Paulo, amigo de fé!
    Ótimo texto! Li durante a semana, mas agora consegui um tempinho para comentar.
    Vidas Secas é uma obra prima do cinema brasileiro, e reflete, creio, muito bem essa situação de miséria que o sertanejo vive, e é muito triste.
    A parte que você falou de reclamarmos, às vezes, de coisas tão supérfluas... já visitei o hospital de câncer infantil,e perceber crianças, algumas em estado terminal e ainda sorrindo ou querendo brincar..., enfim, me emocionei, fico por aqui.

    Abraços e ótimo fim de semana para vocês.

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    1. Cissa, como vai? Vidas Secas é uma obra que nos leva a uma reflexão séria, e como você citou ai, visitando lugares como hospitais, asilos, e outros desse gênero, começamos a encarar a vida de uma forma mais madura, e ver que, as nossas pequenas necessidades são tão ínfimas em relação às necessidades básicas dos outros.

      Um grande abraço pra ti.

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  9. Oi Paulo,

    Tudo bem? Nunca assisti esse filme, mas como sou do Nordeste vejo todos os dias essa situação. Logo cedo aprendi a não reclamar da vida e agradecer o pão de cada dia. Enfim, valorizar o que tenho por benção de Deus.

    Beijos em ti e Michel.

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    1. Oi Lu, olha, se você ainda não viu o filme, sugiro que veja, ou leia o livro, e também sou nordestino, mas moro na capital, mas já visitei o sertão e o agreste, e cheguei a ver pessoas nessa situação, é triste mesmo.

      Um grande abraço.

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