domingo, 23 de março de 2014

Cultura, religiosidade e a dor humana.

Waris Dirie
Ontem, sábado à noite, eu e esposa decidimos pedir uma pizza por telefone e escolher um filme pra assistir, como já assistimos quase todos em meu acervo particular, vasculhei no Youtube um que fosse legal, e lembrei de um drama chamado “Desert Flower”, ou Flor do Deserto, que narra a história verídica de uma garota que morava na Somália e, devido aos costumes locais islã, fora mutilada em seu órgão genital aos 3 anos de idade, e o destino fez uma reviravolta em sua vida, uma história bastante emocionante.


Sem querer ser spoiller, resumidamente o filme se trata de uma garota que vive com a sua família no deserto da Somália com seus pais e irmãos, aos 3 anos de idade, devido a uma cultura que se propagou por gerações entre as famílias da Somália, e baseado nos usos e costumes do Islã, as garotas têm que se submeterem a uma mutilação no órgão genital, cortando com gilete e sem anestesia o clitóris, assim como os grandes lábios, e em seguida costurando-o, deixando uma abertura de uma cabeça de fósforo somente para urinar, nesse sacrifício tolo e inumano, muitas crianças vêm a falecer devido a hemorragias, e tudo isso com o intuito de as deixarem puras e não terem o direito de sentirem prazer, pois só o homem, segundo essa cultura, tem o direito de sentir prazer. Bem, o desenrolar da trama é muito interessante, pois quando a garota, de nome Waris Dirie atinge 13 anos de idade, é doada para se casar forçosamente com um velho que tem várias mulheres, outra tradição, a poligamia, ela então decide fugir não aceitando se casar, atravessando um deserto sozinha, descalça e com fome, quase é comida viva por um leão, mas milagrosamente sobrevive, ao chegar na cidade de Mogadishu, capital do país, se encontra com a sua avó materna, que a envia para a Inglaterra, lá, ela começa a trabalhar de faxineira na Embaixada da Somália, depois, já adulta, é descoberta em um restaurante onde trabalha como faxineira por um fotógrafo famoso, se torna modelo internacional devido à sua beleza excepcional, e faz um discurso na ONU denunciando essa prática maldita que acomete milhares e milhares de garotas em seu país, o filme, a história de vida e de superação de Waris Dirie é de fazer qualquer brutamontes chorar, e foi o que fiz.

O meu enfoque neste texto não é o fato de a somali (Waris Dirie) ter sobrevivido e se tornado uma top model de sucesso, mas em algumas culturas absurdas, estúpidas e inumanas que são propagadas por gerações em nome de tradições sem nexo ou por ignorância espiritual de algumas seitas, como é o caso do Islamismo. Respeitar a religiosidade das pessoas é algo prudente e educado, pois a fé e a crença, mesmo naquilo que não faz sentido, é algo personalíssimo, mas existem práticas que ferem a dignidade humana e agridem o bem estar físico, mental e emocional das pessoas e que são propagadas em algumas religiões, e essas práticas é que precisam ser expostas, questionadas e combatidas, independente de serem tidas como culturas milenares ou usos e costumes de quaisquer sociedades. Nenhum tipo de religiosidade ou prática em nome de qualquer religião pode justificar algum tipo de dano ao ser humano, seja físico, emocional ou espiritual. Toda religião ou prática que macule a dignidade humana é execrável, abominável e anátema. E não só algumas práticas islâmicas são detestáveis, mas práticas que se fazem em outras religiões e seitas trazendo estragos indeléveis à milhões de pessoas mundo afora.


O filme que assisti ontem me fez refletir bastante, enquanto estou aqui escrevendo este desabafo, centenas ou milhares de crianças, adolescente ou adultos estão tendo a sua dignidade aviltada por práticas condenáveis religiosas mundo afora, o que é triste. Enquanto estamos chateados com o sinal da internet que está fraco, ou murmurando que o café não está tão quente, vidas estão sofrendo ao redor do mundo em culturas primitivas e regidas pelo peso maldito da religião. O mundo é algo paradoxal, e algumas práticas desumanas continuarão a causar dor, indignação e sofrimento a muitos seres humanos. 


Paulo Cheng


5 comentários:

  1. Que beleza de reflexões...
    Não consigo aceitar a necessidade de práticas assim em nome da religião. E tantas outros procedimentos... abração,tudo de bom,chica ( e a pizza?estava boa? Essa garanto foi mais leve,rs!)

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    1. Chica querida, obrigado pelo comentário, e concordo contigo, não devemos aceitar práticas dessa natureza, são abomináveis. Em relação à pizza, estava deliciosa, e bem mais leve que o filme, rs.

      Abraço.

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  2. Querido Paulo, sua publicação, se utilizando de um filme alusivo a uma prática nociva e desrespeitosa a dignidade humana, o que ocorre em muitas práticas tidas como religiosas, é um convite a reflexão. O seu desabafo deve ser compartilhado com aqueles que se colocam firmemente contra esse tipo de situação. Eu também compartilho do mesmo pensamento que você tem a esse respeito. Um grande abraço meu caro. O parabenizo pela excelente publicação e da escolha do tema.

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  3. Paulo, me desculpe, mas não sei qual foi a razão do bloguer ter enviado o mesmo comentário que fiz a respeito de sua publicação, 27 vezes. De qualquer modo, me desculpe.

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    1. Olá Paulo, que bom que gostou da reflexão, e realmente o tema nos leva a refletir muito, um assunto muito delicado. Poxa, quando vi 27 comentários, corri logo pra conferi, mas percebi logo que tinha havido algum erro, mas já está sanado PC.

      Abração pra ti amigo.

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