quarta-feira, 28 de maio de 2014

Entrevista com o fotógrafo pernambucano Francisco Cribari

Hello everybody, hoje tenho o prazer de postar mais uma entrevista, e o bate papo da vez ficou por conta do conceituado e experiente fotógrafo Francisco Cribari, renomado em Pernambuco e em outros estados, a entrevista gravitou em torno do universo da maravilhosa arte da fotografia, além dele nos contar um pouco de sua jornada como fotógrafo e dar dicas preciosas para quem é amante desta arte, seja amador ou profissional. Curtam aí a entrevista, está demais.



1-    Olá Francisco, é um prazer fazer essa entrevista contigo, um fotógrafo renomado e experiente, de cara, fique à vontade para dar as boas vindas.

É um prazer participar dessa entrevista.

2-    Você é, como afirmei acima, um fotógrafo bem experiente, e cultiva essa paixão pela arte da fotografia há um bom tempo, como você se encantou por esta arte e como você trilhou os primeiros passos como fotógrafo?

Quando eu morava em São Paulo, na minha adolescência, estudei fotografia na escola Imagem e Ação. Obviamente, tudo era analógico, mas o essencial na fotografia independente do meio de captura. Precisei fazer dois trabalhos, um para cada curso. Escolhi temas de rua: crianças moradoras de rua e a vida nos bancos em um parque de São Paulo. Lembro que a execução desses projetos me marcou; ela plantou em mim uma semente. Adicionalmente, meu padrasto era jornalista, o que me fazia circular em meios muito ligados à fotografia. Por fim, desde cedo mantive interesse pela arte, paixão essa que me acompanha até hoje. Apenas acomodei, desde o início, a fotografia nessa paixão mais ampla.

3-    Como você analisa o mercado pernambucano da fotografia, evoluiu ou ainda está atrasado em relação a outros estados do Brasil?

Não me sinto confiante para fazer análises de mercado. Posso apenas dizer que a fotografia digital gerou um aumento da demanda por serviços de fotografia e talvez um aumento maior ainda na oferta de tais serviços. Argumentos elementares de teoria econômica indicam que essa dinâmica tem um reflexo imediato de queda no preço dos serviços. Alguns fotógrafos sentem-se incomodados com tal dinâmica. Eu a vejo com naturalidade, como fruto de forças em movimento. Acho bom que haja uma certa democratização do mercado fotográfico e que diferentes estruturas de preços estejam associadas a diferentes faixas de qualidade. Em última instância, o melhor cartão de visitas de um fotógrafo é sua produção, seu portfólio. Esse é o verdadeiro divisor de águas, no meu entender. 

4-    O advento da internet facilitou o acesso a inúmeras áreas de trabalho, no que tange à fotografia, ela supre toda a gama de conhecimento que um fotógrafo precisa ter para exercer a sua função ou a internet funciona como um auxiliar coadjuvante, necessitando que o fotógrafo busque conhecimentos e cursos presenciais?

Deve-se estudar, sempre. Sempre. As fontes devem ser várias: cursos, workshops, livros, DVDs, vídeos no YouTube (e páginas similares) etc. A internet facilita esse processo, mas não substitui, no meu entender, a necessidade de leitura de livros. Os livros sempre foram minha maior forma de aprendizado, em todos os campos. A fotografia não é exceção. O domínio da língua inglesa é um fator que contribui sobremaneira para o aprendizado, uma vez que muitos livros de boa qualidade e vídeos informativos do YouTube não possuem tradução para o português. A maior parte do meu material de estudo (livros e vídeos) não tem correspondente na nossa língua.

5-    Vou fazer uma pergunta retórica, porém, é sempre interessante ouvirmos a resposta de um fotógrafo experiente, em primeiro lugar, o que é primordial num fotógrafo: seu olhar fotográfico, cursos e técnica ou um equipamento top?

Tudo é importante, em diferentes gradações. O mais importante, no meu entender, é o olhar fotográfico acoplado a um senso estético apurado e a uma boa dose de sensibilidade artística. Tal olhar precisa ser constantemente lapidado, digamos assim. Não é uma dádiva inerte. Como lapidá-lo? Minha resposta: expondo-se continuadamente às artes ao largo (pinturas, esculturas, literatura, poesia, dança, teatro, cinema etc.). A carga artística acumulada se reflete, mesmo que por vias inconscientes, em nossa produção fotográfica. Costumo dizer que as melhores escolas de fotografias são os bons museus. Descontada certa dose de exagero que a proposição embute, sua essência é verdadeira. Em segundo lugar, há o domínio técnico. Há que se dominar aspectos técnicos da fotografia, desde o funcionamento de uma câmera DSLR até detalhes sobre características e efeitos da luz. Por fim, há o equipamento. Em alguns ramos da fotografia, ele é de segunda ordem. Em outros ramos, contudo, a boa fotografia requer um bom equipamento. Acho que isso deve ser modulado de acordo com a área em que a fotografia será exercida.

6-    Francisco, em sua longa trajetória no mundo fotográfico, com certeza você já viu e vivenciou muita coisa, diante disto, poderia citar uma ou algumas situações das mais inusitadas ou inesquecíveis que marcaram o seu trabalho.

O mais inusitado na fotografia é que, sem que notemos, ela muda nosso olhar sobre o mundo. O bom fotógrafo deve ser um bom voyer, um excelente observador. E para que se observe bem é necessário ter empatia pelo outro, é necessário ter interesse pela diversidade, por aquilo que nos é estrangeiro. É preciso ter curiosidade. É preciso despir-se de julgamento e pré-julgamentos. Com bem colocou Ortega y Gasset, eu sou eu e minha circunstância. Não devo aplicar minhas métricas a outrem. A fotografia, se bem exercitada, permite-nos olhar o mundo com olhos mais generosos. Cada pessoa é ela e suas circunstâncias – não as minhas. Gosto de olhar para fotos de pessoas que eu fotografei, principalmente fotos de rua, e perguntar-me: “O que ela sentia nesse momento? Que sonhos ainda tinha? Quais perdeu? Quais esperanças e desesperanças norteiam-lhe?” Esse exercício é encantador, pois revela algo sobre o que há de mais essencial: nossa humanidade.

7-    Cribari, você é o administrador de um grupo bem conceituado no facebook, que é o Pernambuco Foto Clube, no qual há mais de 7 mil membros, como é gerenciar um grupo com tantos adeptos e com fotógrafos e amantes da fotografia com alto nível de qualidade?

É um trabalho difícil, árduo e pouco valorizado. Vivemos numa cultura em que há pouco apreço e respeito por marcos legais. Nosso grupo é pautado por um conjunto de regras bem conhecidas e específicas. Muitos querem escolher quais cumprir, pois acham que só precisam obedecer as regras com as quais concordam. Outros acham que regras não se aplicam a eles, por quaisquer razões. Meu trabalho, junto com os outros três administradores, é fazer com que a dinâmica do grupo se dê em meio à observância das regras, que existem para garantir uma boa convivência. Às vezes impressiono-me pelo teor de ressentimentos, ódio e falta de ética que abunda nos fóruns de fotografia. São atitudes pequenas de pessoas pequenas, diminutas. Minha reação é não descer a esses patamares. Não nutro ódio, não fermento ressentimentos e não me engajo em práticas anti-éticas, como, por exemplo, comentar sobre pessoas em fóruns em que não estão presentes para se defender. Aqui, como alhures, vale a máxima: “Quando João fala de José eu sei mais sobre João do que sobre José.”

Goethe certa vez escreveu que só aquilo que é frutífero é verdadeiro. O Pernambuco Foto Clube (PFC) encarna esse espírito. Queremos contribuir para o avanço da fotografia em Pernambuco. Fazemos isso compartilhando informações sobre fotografia (inclusive via Twitter e newsletter enviada semanalmente por e-mail a assinantes), organizando saídas fotográficas, organizando palestras sobre fotografia, realizando exposições fotográficas coletivas, organizando eventos que envolvem registros fotográficos (como, por exemplo, a campanha “Um Olhar Sobre Brennand”, realizada em parceria com a Oficina Cerâmica Francisco Brennand) e a lista segue. Esses empreendimentos envolvem muita dedicação e trabalho por parte dos administradores do grupo, mas sentimos enorme prazer ao observar seus frutos. O PFC já realizou vinte saídas fotográficas (muitas das quais registradas em vídeos, que estão disponíveis no YouTube), seis palestras sobre fotografia e quatro exposições fotográficas coletivas. Entendo que contribuímos para o avanço da fotografia em nosso estado.

8-    Segundo a sua biografia no seu site e observando os seus trabalhos, a sua especialidade é eternizar pessoas através de suas lentes, seja em estúdio ou fora dele, há alguma dificuldade em fotografar pessoas, há alguma técnica que possa captar o momento exato ou tudo depende da espontaneidade?

Nada me encanta tanto quanto o ser humano, quanto nossa humanidade. Não tenho talento para fotografar paisagens ou animais. Meus esforços são dirigidos para registros de pessoas. Temos dois traços distintos, a saber: 1) nossas reações e comportamentos espontâneos e 2) nossa figura projetada, nossa idealização de nós mesmos que projetamos para o mundo na esperança que ele o absorva dessa forma. Minha fotografia se ocupa dessas duas facetas. Faço fotografia de rua, onde procuro registrar as pessoas em ambientes públicos comportando-se e interagindo de forma natural, espontânea, cândida. E faço também fotos em estúdio, posadas, onde trabalho a vertente da imagem projetada. Em qualquer vertente, contudo, os pilares de nossa humanidade são sempre os mesmo. Há unidade na diversidade.

9-    Todo fotógrafo tem alguém que o inspirou ou continua sendo fonte de inspiração contínua, em sua trajetória, quem são as suas maiores referências neste vasto universo, que é a fotografia?

Minha maior referência é nunca permitir que influências se transformem em referências. Explico. Vejo a fotografia como uma forma de arte. Essa é a fotografia que me interessa. Na arte há que se expressar algo fundamentalmente pessoal. A arte tem que espelhar experiências e sentimentos que o artista vivenciou e que, através de sua obra, são canalizados para outrem. Quando influências se tornam referências esse processo é, no meu entender, comprometido. Costumo dizer que quando a minha fotografia se parecer com a de outrem eu fracassei. Boa ou ruim ela deve ser minha, deve expressar, com arte e certa dose de poesia, o que eu sinto, o que eu vivenciei.

Dito isso, admiro as obras de Henri Cartier-Bresson, André Kertész, Robert Doisneau, Dorothea Lange, Diane Arbus, Brassai, Eugene Smith, Robert Frank, Steve McCurry, Sebastião Salgado, entre outros. Ultimamente tenho me deliciado apreciando a obra fotográfica da Vivian Maier. A história por trás de tal obra é igualmente impressionante. Na fotografia de moda tenho, claro, grande admiração pelo Richard Avedon e pelo Irving Penn.  Há muitos outros excelentes fotógrafos. São muitos e não poderei citá-los nominalmente. Se for para citar só mais um citarei um brasileiro: Miro. Seu trabalho é verdadeiramente excelente.

Eu acho que uma das tarefas pilares de um bom fotógrafo é fugir do óbvio, é encontrar camadas estéticas distintas daquela que ocupa a superfície. Nesse quesito não somos distintos, por exemplo, dos bons escritores. Leia Dostoiévski e Tolstói e você notará como tudo é menos delineado do que aparentava ser na superfície. É nas nuances que mora a boa arte. E é lá que devemos ir buscá-las. Talvez esse seja o traço unificador de todos os fotógrafos que listei acima.

10- O ramo da fotografia, assim como as demais áreas, é um campo bastante competitivo e acirrado, há profissionais de variados níveis de conhecimento e experiência, em sua opinião, há possibilidade de alguém lograr êxito nesta área sem ter estudado ou que não se recicle constantemente?

Contra-exemplos à parte, eu acho que não. Vejo a fotografia como uma escada. Na fotografia digital, rapidamente sobe-se um ou dois degraus. E isso é feito com certa facilidade. Muitos contentam-se com esse patamar e nele permanecem. Nada há de errado nisso. Para subir mais na escada da fotografia, contudo, deve-se ter comprometimento, disciplina, curiosidade e, acima de tudo, disposição para o estudo.  O caminho mais árduo é, na fotografia como alhures, sempre o mais frutífero.

11- Falar de equipamentos é algo subjetivo e personalíssimo, porém, com a sua experiência, quais os equipamentos básicos que um iniciante da fotografia deveria ter para começar a fotografar, e quais as dicas básicas para aqueles que querem se profissionalizar neste ramo?

A dica mais importante é simples: estudar sempre e sempre querer aprender mais. Minha segunda dica é prestar atenção a que tipo de fotografia a pessoa gosta de fazer e para qual ramo da fotografia ela tem talento. É muito bom quando essas duas coisas coincidem.

No que tange a equipamentos, as boas câmeras DSLR APS-C (“cropadas”) são ideais para quem está nos estágios iniciais e possui recursos para adquiri-las. Por exemplo, Nikon D7100 e Canon 70D. Eu sempre recomendo que se tenha uma lente de distância focal fixa (e.g., 35mm ou 50mm) e clara (e.g., f/1.4 ou f/1.8). Quem deseja fotografar em situações de pouca luz deve considerar a possibilidade de adquirir uma boa câmera full frame.

12- Francisco Cribari, agradeço a sua colaboração para com o meu site e por este bate papo muito legal, visto que também sou amante da fotografia, pode mandar o seu recado final, recomendação, sugestão, enfim, a palavra final é sua, um grande abraço pra ti e sucesso em seu trabalho.

Obrigado pelas perguntas. Foi um prazer respondê-las. Minha palavra final é bastante pessoal. A fotografia que me interessa é que aquela é usada como forma de expressão e que embute boa dose de arte e poesia. Para se fotografar é preciso ter o que dizer. E é preciso tentar fazê-lo com arte. Esse é o meu norte na fotografia; é isso que me move. E em o fazendo, descubro-me. A fotografia é, no grande esquema das coisas, uma jornada solitária de autodescoberta. Ao menos para mim.

Minha produção pode ser encontrada na página http://www.cribari.com.br .




17 comentários:

  1. Excelente a entrevista com o mestre Francisco Cribari. Parabéns para todos : o entrevistado e o entrevistador.
    Silvino Pinto

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    1. Silvino Pinto, agradeço o comentário e o Francisco realmente é um mestre nesta arte, grande abraço.

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  2. André Burity:
    Realmente gostei da entrevista, pensamentos temos pensamentos parecidos, lógico que Francisco tem muito mais experiência Grande abraço!

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    1. Obrigado André, um bate papo curto como esse obviamente não expressa nem um décimo de toda a experiência que o Francisco adquiriu em sua trajetória, mas nos mostra um pouco de seu conhecimento.

      Abraço.

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  3. Paulo, meu amigo de fé!
    Maravilhosa entrevista! Muito proveitosa!
    Trabalho como designer gráfica há mais de duas décadas, e sempre tive que ter noções de fotografia para fazer a seleção, edição.
    Como sempre você é ótimo como entrevistador, e o entrevistado deu respostas muito inteligentes. Em termos de fotografia, saliento as palavras dele: "minha maior referência é nunca permitir que influências se transformem em referências."

    Grande abraço aos dois!

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    1. Cissa amigona, realmente uma boa entrevista, muito proveitosa mesmo, e que bom que a sua profissão flerta um pouco com a fotografia, uma interação muito bacana, e o Francisco é um ótimo fotógrafo, tenho acompanhado o seu trabalho. Um abração pra ti guria.

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  4. Perguntas e respostas de alto nivel. Francisco Cribari sempre com sua cultura e expressão ímpares. Aprendo muito com a sua obra artística, seu senso de estética e profissionalismo. Parabéns.

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    1. Oi Ana Valéria, que bom que gostaste da entrevista, e que bom que a influência do Francisco Cribari é um referencial pra ti, pra mim também. Obrigado pelo comentário, abração pra ti.

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  5. Muito legal ,bem conduzida a entrevista! Gostei muito de ler ,conhecer um pouco sobre fotografia profissional, já que adoro fotografias, ando sempre com minha pequeninha máquina, mas não tenho a menor noção.Tudo acontece, simplesmente,rs Valeu! abraços aos dois! chica

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    1. Chica querida, que bom que tu gostou, e quem não ama a fotografia, e é sempre bom termos uma noção ou orientação profissional sobre ela, nos ajuda a termos uma noção e fazer a coisa certa.

      Abração pra ti.

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  6. Bela entrevista! |

    Não esperava nada menos que isso vindo de alguem com tanto conteudo.

    Parabéns ao entrevistado e ao entrevistador.

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    1. Wagner, com certeza muito conteúdo, e obrigado por ter comentado, grande abraço.

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  7. gosto muito desta tua rubrica, paulo, pelo que me regozijo por a manteres viva no blogue. excelente conhecer o francisco, neste pingue-pongue verbal, até porque, como agora sabes, a fotografia é, em mim, uma nova paixão.

    um abraço a ti e outro ao entrevistado!

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    1. Jorge, a fotografia pra mim é uma nova paixão também, uma arte maravilhosa e que me tomou de assalto.

      Obrigado pelo comentário e um abração.

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  8. A fotografia, mais que um trabalho, é uma arte. A entrevista do fotógrafo Francisco Cribari confirma isso. Bom ver um profissional traduzir para uma linguagem comum, ou seja, de fácil entendimento para todos, o que é o seu trabalho. Parabéns Paulo por retornar com as entrevistas em seu blog. É maravilhoso esse espaço que você dedica em seu site. Um grande abraço.

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    1. Grande PC, agora estou empolgado novamente com as entrevistas, e já tenho em mente outras, mas na hora certa, e que bom que gostaste, amo a fotografia, e creio que todos gostam desta arte nobre. Abração pra ti.

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Olá queridos, você está em meu site, o paulocheng.com, um espaço onde eu escrevo e posto minhas impressões, meus devaneios, minhas inspirações e sandices, desde já agradeço pelo acesso, lembrando que você não é obrigado a comentar, pois não há uma obrigatoriedade ou imposição, caso você não ache interessante ou esteja com preguiça, não tem problema, o que quero aqui é o prazer acima de qualquer coisa, e não obrigatoriedade, ok? Que Deus possa te abençoar em Cristo Jesus.