Hello everybody, hoje tenho o prazer de postar mais uma
entrevista, e o bate papo da vez ficou por conta do conceituado e experiente
fotógrafo Francisco Cribari, renomado em Pernambuco e em outros estados, a
entrevista gravitou em torno do universo da maravilhosa arte da fotografia,
além dele nos contar um pouco de sua jornada como fotógrafo e dar dicas
preciosas para quem é amante desta arte, seja amador ou profissional. Curtam aí
a entrevista, está demais.
1- Olá Francisco, é um prazer fazer essa entrevista contigo, um
fotógrafo renomado e experiente, de cara, fique à vontade para dar as boas
vindas.
É um prazer participar dessa entrevista.
2- Você é, como afirmei acima, um fotógrafo bem experiente, e cultiva
essa paixão pela arte da fotografia há um bom tempo, como você se encantou por
esta arte e como você trilhou os primeiros passos como fotógrafo?
Quando eu morava em São Paulo, na minha
adolescência, estudei fotografia na escola Imagem e Ação. Obviamente, tudo era
analógico, mas o essencial na fotografia independente do meio de captura.
Precisei fazer dois trabalhos, um para cada curso. Escolhi temas de rua:
crianças moradoras de rua e a vida nos bancos em um parque de São Paulo. Lembro
que a execução desses projetos me marcou; ela plantou em mim uma semente.
Adicionalmente, meu padrasto era jornalista, o que me fazia circular em meios
muito ligados à fotografia. Por fim, desde cedo mantive interesse pela arte,
paixão essa que me acompanha até hoje. Apenas acomodei, desde o início, a
fotografia nessa paixão mais ampla.
3- Como você analisa o mercado pernambucano da
fotografia, evoluiu ou ainda está atrasado em relação a outros estados do
Brasil?
Não me sinto confiante para fazer análises
de mercado. Posso apenas dizer que a fotografia digital gerou um aumento da
demanda por serviços de fotografia e talvez um aumento maior ainda na oferta de
tais serviços. Argumentos elementares de teoria econômica indicam que essa
dinâmica tem um reflexo imediato de queda no preço dos serviços. Alguns
fotógrafos sentem-se incomodados com tal dinâmica. Eu a vejo com naturalidade,
como fruto de forças em movimento. Acho bom que haja uma certa democratização
do mercado fotográfico e que diferentes estruturas de preços estejam associadas
a diferentes faixas de qualidade. Em última instância, o melhor cartão de
visitas de um fotógrafo é sua produção, seu portfólio. Esse é o verdadeiro
divisor de águas, no meu entender.
4- O advento da internet facilitou o acesso a inúmeras
áreas de trabalho, no que tange à fotografia, ela supre toda a gama de
conhecimento que um fotógrafo precisa ter para exercer a sua função ou a
internet funciona como um auxiliar coadjuvante, necessitando que o fotógrafo
busque conhecimentos e cursos presenciais?
Deve-se estudar, sempre. Sempre. As fontes
devem ser várias: cursos, workshops, livros, DVDs, vídeos no YouTube (e páginas
similares) etc. A internet facilita esse processo, mas não substitui, no meu
entender, a necessidade de leitura de livros. Os livros sempre foram minha
maior forma de aprendizado, em todos os campos. A fotografia não é exceção. O
domínio da língua inglesa é um fator que contribui sobremaneira para o
aprendizado, uma vez que muitos livros de boa qualidade e vídeos informativos do
YouTube não possuem tradução para o português. A maior parte do meu material de
estudo (livros e vídeos) não tem correspondente na nossa língua.
5- Vou fazer uma pergunta retórica, porém, é sempre
interessante ouvirmos a resposta de um fotógrafo experiente, em primeiro lugar,
o que é primordial num fotógrafo: seu olhar fotográfico, cursos e técnica ou um
equipamento top?
Tudo é importante, em diferentes gradações.
O mais importante, no meu entender, é o olhar fotográfico acoplado a um senso
estético apurado e a uma boa dose de sensibilidade artística. Tal olhar
precisa ser constantemente lapidado, digamos assim. Não é uma dádiva inerte.
Como lapidá-lo? Minha resposta: expondo-se continuadamente às artes ao largo
(pinturas, esculturas, literatura, poesia, dança, teatro, cinema etc.). A carga
artística acumulada se reflete, mesmo que por vias inconscientes, em nossa
produção fotográfica. Costumo dizer que as melhores escolas de fotografias são
os bons museus. Descontada certa dose de exagero que a proposição embute, sua
essência é verdadeira. Em segundo lugar, há o domínio técnico. Há que se
dominar aspectos técnicos da fotografia, desde o funcionamento de uma câmera
DSLR até detalhes sobre características e efeitos da luz. Por fim, há o
equipamento. Em alguns ramos da fotografia, ele é de segunda ordem. Em outros
ramos, contudo, a boa fotografia requer um bom equipamento. Acho que isso deve
ser modulado de acordo com a área em que a fotografia será exercida.
6- Francisco, em sua longa trajetória no mundo
fotográfico, com certeza você já viu e vivenciou muita coisa, diante disto,
poderia citar uma ou algumas situações das mais inusitadas ou inesquecíveis que
marcaram o seu trabalho.
O mais inusitado na fotografia é que, sem
que notemos, ela muda nosso olhar sobre o mundo. O bom fotógrafo deve ser um
bom voyer, um excelente observador. E para que se observe bem é necessário ter
empatia pelo outro, é necessário ter interesse pela diversidade, por aquilo que
nos é estrangeiro. É preciso ter curiosidade. É preciso despir-se de julgamento
e pré-julgamentos. Com bem colocou Ortega y Gasset, eu sou eu e minha
circunstância. Não devo aplicar minhas métricas a outrem. A fotografia, se bem
exercitada, permite-nos olhar o mundo com olhos mais generosos. Cada pessoa é
ela e suas circunstâncias – não as minhas. Gosto de olhar para fotos de pessoas
que eu fotografei, principalmente fotos de rua, e perguntar-me: “O que ela
sentia nesse momento? Que sonhos ainda tinha? Quais perdeu? Quais esperanças e desesperanças
norteiam-lhe?” Esse exercício é encantador, pois revela algo sobre o que há de
mais essencial: nossa humanidade.
7- Cribari, você é o administrador de um grupo bem
conceituado no facebook, que é o Pernambuco Foto Clube, no qual há mais de 7
mil membros, como é gerenciar um grupo com tantos adeptos e com fotógrafos e
amantes da fotografia com alto nível de qualidade?
É um trabalho difícil, árduo e pouco
valorizado. Vivemos numa cultura em que há pouco apreço e respeito por marcos
legais. Nosso grupo é pautado por um conjunto de regras bem conhecidas e
específicas. Muitos querem escolher quais cumprir, pois acham que só precisam
obedecer as regras com as quais concordam. Outros acham que regras não se
aplicam a eles, por quaisquer razões. Meu trabalho, junto com os outros três
administradores, é fazer com que a dinâmica do grupo se dê em meio à
observância das regras, que existem para garantir uma boa convivência. Às vezes
impressiono-me pelo teor de ressentimentos, ódio e falta de ética que abunda
nos fóruns de fotografia. São atitudes pequenas de pessoas pequenas, diminutas.
Minha reação é não descer a esses patamares. Não nutro ódio, não fermento
ressentimentos e não me engajo em práticas anti-éticas, como, por exemplo,
comentar sobre pessoas em fóruns em que não estão presentes para se defender.
Aqui, como alhures, vale a máxima: “Quando João fala de José eu sei mais sobre
João do que sobre José.”
Goethe certa vez escreveu que só aquilo que
é frutífero é verdadeiro. O Pernambuco Foto Clube (PFC) encarna esse espírito.
Queremos contribuir para o avanço da fotografia em Pernambuco. Fazemos isso
compartilhando informações sobre fotografia (inclusive via Twitter e newsletter
enviada semanalmente por e-mail a assinantes), organizando saídas fotográficas,
organizando palestras sobre fotografia, realizando exposições fotográficas
coletivas, organizando eventos que envolvem registros fotográficos (como, por
exemplo, a campanha “Um Olhar Sobre Brennand”, realizada em parceria com a
Oficina Cerâmica Francisco Brennand) e a lista segue. Esses empreendimentos
envolvem muita dedicação e trabalho por parte dos administradores do grupo, mas
sentimos enorme prazer ao observar seus frutos. O PFC já realizou vinte saídas
fotográficas (muitas das quais registradas em vídeos, que estão disponíveis no
YouTube), seis palestras sobre fotografia e quatro exposições fotográficas
coletivas. Entendo que contribuímos para o avanço da fotografia em nosso
estado.
8- Segundo a sua biografia no seu site e observando os
seus trabalhos, a sua especialidade é eternizar pessoas através de suas lentes,
seja em estúdio ou fora dele, há alguma dificuldade em fotografar pessoas, há
alguma técnica que possa captar o momento exato ou tudo depende da
espontaneidade?
Nada me encanta tanto quanto o ser humano,
quanto nossa humanidade. Não tenho talento para fotografar paisagens ou
animais. Meus esforços são dirigidos para registros de pessoas. Temos dois
traços distintos, a saber: 1) nossas reações e comportamentos espontâneos e 2)
nossa figura projetada, nossa idealização de nós mesmos que projetamos para o
mundo na esperança que ele o absorva dessa forma. Minha fotografia se ocupa
dessas duas facetas. Faço fotografia de rua, onde procuro registrar as pessoas
em ambientes públicos comportando-se e interagindo de forma natural,
espontânea, cândida. E faço também fotos em estúdio, posadas, onde trabalho a
vertente da imagem projetada. Em qualquer vertente, contudo, os pilares de
nossa humanidade são sempre os mesmo. Há unidade na diversidade.
9- Todo fotógrafo tem alguém que o inspirou ou
continua sendo fonte de inspiração contínua, em sua trajetória, quem são as
suas maiores referências neste vasto universo, que é a fotografia?
Minha maior referência é nunca permitir que
influências se transformem em referências. Explico. Vejo a fotografia como uma
forma de arte. Essa é a fotografia que me interessa. Na arte há que se
expressar algo fundamentalmente pessoal. A arte tem que espelhar experiências e
sentimentos que o artista vivenciou e que, através de sua obra, são canalizados
para outrem. Quando influências se tornam referências esse processo é, no meu
entender, comprometido. Costumo dizer que quando a minha fotografia se parecer
com a de outrem eu fracassei. Boa ou ruim ela deve ser minha, deve expressar,
com arte e certa dose de poesia, o que eu sinto, o que eu vivenciei.
Dito isso, admiro as obras de Henri
Cartier-Bresson, André Kertész, Robert Doisneau, Dorothea Lange, Diane Arbus,
Brassai, Eugene Smith, Robert Frank, Steve McCurry, Sebastião Salgado, entre
outros. Ultimamente tenho me deliciado apreciando a obra fotográfica da Vivian
Maier. A história por trás de tal obra é igualmente impressionante. Na
fotografia de moda tenho, claro, grande admiração pelo Richard Avedon e pelo
Irving Penn. Há muitos outros excelentes
fotógrafos. São muitos e não poderei citá-los nominalmente. Se for para citar
só mais um citarei um brasileiro: Miro. Seu trabalho é verdadeiramente
excelente.
Eu acho que uma das tarefas pilares de um
bom fotógrafo é fugir do óbvio, é encontrar camadas estéticas distintas daquela
que ocupa a superfície. Nesse quesito não somos distintos, por exemplo, dos
bons escritores. Leia Dostoiévski e Tolstói e você notará como tudo é menos
delineado do que aparentava ser na superfície. É nas nuances que mora a boa
arte. E é lá que devemos ir buscá-las. Talvez esse seja o traço unificador de
todos os fotógrafos que listei acima.
10- O ramo da fotografia, assim como as demais áreas, é
um campo bastante competitivo e acirrado, há profissionais de variados níveis
de conhecimento e experiência, em sua opinião, há possibilidade de alguém
lograr êxito nesta área sem ter estudado ou que não se recicle constantemente?
Contra-exemplos à parte, eu acho que não.
Vejo a fotografia como uma escada. Na fotografia digital, rapidamente sobe-se
um ou dois degraus. E isso é feito com certa facilidade. Muitos contentam-se
com esse patamar e nele permanecem. Nada há de errado nisso. Para subir mais na
escada da fotografia, contudo, deve-se ter comprometimento, disciplina,
curiosidade e, acima de tudo, disposição para o estudo. O caminho mais árduo é, na fotografia como
alhures, sempre o mais frutífero.
11- Falar de equipamentos é algo subjetivo e
personalíssimo, porém, com a sua experiência, quais os equipamentos básicos que
um iniciante da fotografia deveria ter para começar a fotografar, e quais as
dicas básicas para aqueles que querem se profissionalizar neste ramo?
A dica mais importante é simples: estudar
sempre e sempre querer aprender mais. Minha segunda dica é prestar atenção a
que tipo de fotografia a pessoa gosta de fazer e para qual ramo da fotografia
ela tem talento. É muito bom quando essas duas coisas coincidem.
No que tange a equipamentos, as boas
câmeras DSLR APS-C (“cropadas”) são ideais para quem está nos estágios iniciais
e possui recursos para adquiri-las. Por exemplo, Nikon D7100 e Canon 70D. Eu
sempre recomendo que se tenha uma lente de distância focal fixa (e.g., 35mm ou
50mm) e clara (e.g., f/1.4 ou f/1.8). Quem deseja fotografar em situações de
pouca luz deve considerar a possibilidade de adquirir uma boa câmera full
frame.
12- Francisco Cribari, agradeço a sua colaboração para
com o meu site e por este bate papo muito legal, visto que também sou amante da
fotografia, pode mandar o seu recado final, recomendação, sugestão, enfim, a
palavra final é sua, um grande abraço pra ti e sucesso em seu trabalho.
Obrigado pelas perguntas. Foi um prazer
respondê-las. Minha palavra final é bastante pessoal. A fotografia que me
interessa é que aquela é usada como forma de expressão e que embute boa dose de
arte e poesia. Para se fotografar é preciso ter o que dizer. E é preciso tentar
fazê-lo com arte. Esse é o meu norte na fotografia; é isso que me move. E em o
fazendo, descubro-me. A fotografia é, no grande esquema das coisas, uma jornada
solitária de autodescoberta. Ao menos para mim.
Minha produção pode ser encontrada na página http://www.cribari.com.br .
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirExcelente a entrevista com o mestre Francisco Cribari. Parabéns para todos : o entrevistado e o entrevistador.
ResponderExcluirSilvino Pinto
Silvino Pinto, agradeço o comentário e o Francisco realmente é um mestre nesta arte, grande abraço.
ExcluirAndré Burity:
ResponderExcluirRealmente gostei da entrevista, pensamentos temos pensamentos parecidos, lógico que Francisco tem muito mais experiência Grande abraço!
Obrigado André, um bate papo curto como esse obviamente não expressa nem um décimo de toda a experiência que o Francisco adquiriu em sua trajetória, mas nos mostra um pouco de seu conhecimento.
ExcluirAbraço.
Paulo, meu amigo de fé!
ResponderExcluirMaravilhosa entrevista! Muito proveitosa!
Trabalho como designer gráfica há mais de duas décadas, e sempre tive que ter noções de fotografia para fazer a seleção, edição.
Como sempre você é ótimo como entrevistador, e o entrevistado deu respostas muito inteligentes. Em termos de fotografia, saliento as palavras dele: "minha maior referência é nunca permitir que influências se transformem em referências."
Grande abraço aos dois!
Cissa amigona, realmente uma boa entrevista, muito proveitosa mesmo, e que bom que a sua profissão flerta um pouco com a fotografia, uma interação muito bacana, e o Francisco é um ótimo fotógrafo, tenho acompanhado o seu trabalho. Um abração pra ti guria.
ExcluirPerguntas e respostas de alto nivel. Francisco Cribari sempre com sua cultura e expressão ímpares. Aprendo muito com a sua obra artística, seu senso de estética e profissionalismo. Parabéns.
ResponderExcluirOi Ana Valéria, que bom que gostaste da entrevista, e que bom que a influência do Francisco Cribari é um referencial pra ti, pra mim também. Obrigado pelo comentário, abração pra ti.
ExcluirMuito legal ,bem conduzida a entrevista! Gostei muito de ler ,conhecer um pouco sobre fotografia profissional, já que adoro fotografias, ando sempre com minha pequeninha máquina, mas não tenho a menor noção.Tudo acontece, simplesmente,rs Valeu! abraços aos dois! chica
ResponderExcluirChica querida, que bom que tu gostou, e quem não ama a fotografia, e é sempre bom termos uma noção ou orientação profissional sobre ela, nos ajuda a termos uma noção e fazer a coisa certa.
ExcluirAbração pra ti.
Bela entrevista! |
ResponderExcluirNão esperava nada menos que isso vindo de alguem com tanto conteudo.
Parabéns ao entrevistado e ao entrevistador.
Wagner, com certeza muito conteúdo, e obrigado por ter comentado, grande abraço.
Excluirgosto muito desta tua rubrica, paulo, pelo que me regozijo por a manteres viva no blogue. excelente conhecer o francisco, neste pingue-pongue verbal, até porque, como agora sabes, a fotografia é, em mim, uma nova paixão.
ResponderExcluirum abraço a ti e outro ao entrevistado!
Jorge, a fotografia pra mim é uma nova paixão também, uma arte maravilhosa e que me tomou de assalto.
ExcluirObrigado pelo comentário e um abração.
A fotografia, mais que um trabalho, é uma arte. A entrevista do fotógrafo Francisco Cribari confirma isso. Bom ver um profissional traduzir para uma linguagem comum, ou seja, de fácil entendimento para todos, o que é o seu trabalho. Parabéns Paulo por retornar com as entrevistas em seu blog. É maravilhoso esse espaço que você dedica em seu site. Um grande abraço.
ResponderExcluirGrande PC, agora estou empolgado novamente com as entrevistas, e já tenho em mente outras, mas na hora certa, e que bom que gostaste, amo a fotografia, e creio que todos gostam desta arte nobre. Abração pra ti.
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