terça-feira, 25 de junho de 2019

A sensível insensibilidade

Imagem extraída da internet
“O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”, esta famosa e icônica frase é atribuída ao pastor americano e ícone na luta contra o racismo, Martin Luther King, que doou a sua vida num embate do bem contra o mal, tombou sem vida, contudo, deixou um legado no qual suas palavras, assim como suas ações vislumbraram que, quando nos posicionamos contra as injustiças e iniquidades, o preço a ser pago muitas vezes é a própria vida.



Vivemos hoje em um momento crucial da história, onde presenciamos histórias nefastas, atos bizarros, ações grotescas, e o esfacelamento da razão e da sensatez. Nunca o ser humano foi tão controverso e antagônico como agora, e os valores norteadores da ética, moral e da espiritualidade estão sendo estilhaçados e estigmatizados à redundância. Em tempos de tecnologia de ponta, redes sociais e avanços digitais, a sensibilidade e o apreço ao próximo estão, de forma antagônica, regredindo de forma ilógica e insana. Definitivamente a vida humana perdeu o seu valor, e a dor do próximo já não comove nem causa emotividade. Somos seres humanos racionais, mas estamos no topo da pirâmide da irracionalidade. 


Um fato recente chocou a sociedade (ou deveria chocar) por sua perversidade, foi o caso do assassinato do pequeno Ruhan, a barbárie tomou conotações grotescas quando o teor macabro de perversidade em sua morte, sendo castrado, torturado, esquartejado e queimado, foi cometido pela sua própria progenitora, com a ajuda de sua amante (um casal homoafetivo feminino). A pessoa que mais deveria salvaguardar a sua integridade física, paradoxalmente foi a autora de sua horrenda morte, o que causa mais pavor a esse fato, e, atônitos nos perguntamos: qual o limite para o ser humano cometer atrocidades? De acordo com este fato, nenhum.


Tal episódio grotesco, como num conto de terror hollywoodiano, deveria gerar comoção nacional, ser motivo de debate para modificações e enrijecimento da Lei Penal, propiciar discussões acaloradas, e ser pretexto para uma enxurrada de posts e revoltas midiáticas nas redes sociais, não obstante, quase nada aconteceu, e a erupção de revolta e comoção nacional que se esperaria de tal crime brutal contra uma criança inofensiva não tomou conotações generalizadas, somente algumas reportagens pontuais e alguns posts nas redes sociais manifestando a indignação, e só. 


O que causa mais perplexidade e se torna um fato estarrecedor é notar que, o fato de um cachorro ser espancado e morto por um segurança de supermercado, causa mais indignação e revolta generalizada do que o assassinato covarde e brutal de uma criança de 09 anos, não que a covardia do segurança contra o cachorro não fosse motivo suficiente para comoção, contudo, a covardia cometida contra aquela criança deveria ter, no mínimo, eclodido uma revolta generalizada em toda a sociedade brasileira, mas por incrível que pareça, não aconteceu, e tal comoção seletiva se deve a inúmeros fatores, inclusive a insensibilidade de uma sociedade que perdeu a percepção de se condoer, de se emotivar, de se indignar com a dor alheia, com a desgraça do outro, com o infortúnio do próximo. Estamos perdendo o bem mais precioso que um ser humano possui: a sensibilidade de amar o próximo.


Fatos como este nos apontam para um caminho nebuloso, para um horizonte soturno, e para um porvir tenebroso, no qual a capacidade de sentir a dor do outro se anestesiou, e a aptidão de sentir misericórdia (misere 'ter compaixão + cordis 'coração' = ter compaixão com o coração) pelo próximo se petrificou. O ser humano está se desumanizando, se despindo de seus atributos mais intrínsecos dotados pelo seu Criador, e com isso, estamos nos serpentizando, rastejando pelos caminhos pedregosos da insensibilidade e da apatia, e assim sendo, estamos sendo protagonistas das maiores barbáries e selvagerias que maculam as amareladas páginas de nossa controversa história. 



Paulo Cheng 

2 comentários:

  1. Belo texto e reflexão e como é triste tanta e tanta coisa ver que nos impressiona negativamente e assusta com o modo de pensar, viver da humanidade em seus comportamentos. Vamos indo! Que bom te ver e que recuperaste o blog! abração, chica

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  2. Infelizmente Chica perdemos a sensibilidade, e quando a exercemos, ou é com fatos seletivos, ou com coisas superficiais. Grato pelo comentário e grande abraço.

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