sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O pecado que trará o fim do mundo

Pr. e escritor Ricardo Gondim
Percebo uma zanga generalizada sobre determinados pecados. “O mundo vai de mal a pior; estamos perto do fim”, alertam. “Mas quais pecados aceleram o fim do mundo?”, pergunto. “Promiscuidade sexual”, respondem; e ainda avisam: “Se não acontecer um avivamento puritano, semelhante ao inglês no tempo da rainha Vitória, vai chover fogo e enxofre”. Insisto; minha inquietação é grande: “Por que tanta ênfase no pecado sexual?”.
Não vamos falar de uma iniquidade que Deus odeia, ou melhor, que ele abomina? O livro de Provérbios é categórico:
Estas seis coisas aborrece o Senhor, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, a língua mentirosa, e mãos que derramam sangue inocente, e coração que maquina pensamentos viciosos, e pés que se apressam a correr para o mal, e testemunha falsa que profere mentiras,
e o que semeia contendas entre irmãos
 – Provérbios 6.16 9. (o grifo é meu).
Deus odeia toda maldade que gera morte, mas detesta, abomina, maledicência, calúnia, boataria. O Senhor execra a difamação com veemência. Por que não se combate precisamente o mal que pode desencadear a ira divina? O nono mandamento da Lei de Deus não deixava dúvida, Javé não tolera quem semeia suspeita: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo”.


Por que Deus aborrece a maledicência com tanta força? 

Porque o maledicente só desopila o baço quando, insatisfeito em arranhar uma reputação, busca destruir uma história. O caluniador crava as unhas na vida de pessoas que admira com ânsia de matar.

Porque o maledicente fuça a intimidade alheia para suscitar o que não presta. Para isso gosta de ambientes mal cheirosos. É hiena com fome de carniça. O caluniador se alimenta de notícias estagnadas. Ele sabe revolver as fossas do passado –  fossas podres. O mundo do caluniador rodopia em frases retalhadas de eventos que deveriam jazer no mar do esquecimento. Quando retalha conversas, pinça revelações de contextos íntimos; e  joga ao vento com o intuito de arrasar.

Porque o maledicente se contenta em sussurrar meias verdades. Ele aumenta, nunca inventa. Sua especialidade é imaginar. Evita o risco da calúnia com vagas insinuações. Fantasia, e espalha como fato, o que suspeita. O difamador não passa de rato. Seus movimentos são ágeis pelos esgotos da dúvida. Seu mundo necessita de penumbra; suas alucinações não resistem à luz. Necessita de lusco fusco para que todos fiquem pardos.

Porque o maledicente é escorregadio. Adora o discurso conservador para se proteger de atos falhos, de pequenas escorregadelas. É ortodoxo. Gosta de discutir literalidade; detesta a sua subjetividade. Montado em lógicas incontestes, evita que outros percebam o desconforto que nutre consigo mesmo. A fofoca espalhada serve para esconder a alma exangue do detrator. Como diz José Ingenieros, ele quer empanar “a refutação alheia para diminuir o contraste com a própria”. Quando sugere a dúvida, acredita que a sua leviandade diminuirá o discernimento das pessoas.

Por que o maledicente precisa de cúmplices. Ele só age em quadrilha. Amparado por gente de coração diminuto, espalha o vírus da notícia imprecisa. Procura não aparecer. Basta esperar que a informação suspeita se espalhe pela boca rancorosa de simplórios. A maquinação da maldade não carece de sua supervisão. E não falta gente baixa. Sobra quem se deleita em assistir ao espetáculo de uma biografia enxovalhada na sarjeta. Ele se delicia em saber que outros terminaram o serviço sujo que ele só começou. Desdenha a Bíblia, que tanto repete: “Não se alegre quando o seu inimigo cair, nem exulte o seu coração quando ele tropeçar…”.

Porque o maledicente saliva na iminente derrocada de quem, na verdade, admira. Depois que sabe da desgraça se refastela. Seu sorriso tem uma satisfação satânica. Ele deseja o que o outro desfrutava. Seu ódio é proporcional à admiração. Agora, acredita que não existe mais ninguém acima de si. A língua é fogo, muitas vezes incandescida pelo inferno. A língua produz um mundo de iniquidade e só precisa de uma fagulha para incendiar o curso de uma reputação. Para acabar com alguém, bastam uma breve insinuação, um cenho franzido, um gesto hesitante.

Porque o maledicente é dono de uma perfídia maldosa. Ele é mestre nas perguntas capciosas. Sua intenção é ouvir o segredo e deixar pontos de interrogação no ar: “Será?”; “Foi assim mesmo?” Para isso, oscila sordidamente entre a piedade e a detração. Com a mesma língua bendiz a Deus e amaldiçoa a história de alguém criado à imagem e semelhança do Deus, que ele jura adorar. Se não consegue destruir a biografia, o testemunho observado objetivamente, o caluniador questiona as intenções. Gosta de fazer juízo de valores porque a subjetividade é frágil. Vale-se de seus esgotos interiores para julgar e sentenciar. Davi pecou, mas teve a graça de escolher que tipo de punição sofreria. “Prefiro cair nas mãos do Senhor, pois grande é a sua misericórdia, a cair nas mãos dos homens”. O padre Antônio Vieira comentou a passagem: “O juízo dos homens é mais temeroso do que o juízo de Deus; porque Deus julga com entendimento, os homens julgam com a vontade”.

Porque o maledicente nunca quer ser justo. Sua verdade nasce da sua antipatia. Indisposto, exerce um juízo manchado de inveja. Mal discerne que suspeita, dúvida e sentença veem contaminada com aversão. O acusador não quer saber que encarna a perigosa serpente do Apocalipse e que terá o mesmo destino.

Porque o maledicente, antes de apontar o dedo, esquece de Provérbios: As palavras do caluniador são como petiscos deliciosos; descem saborosos até o íntimo. Como uma camada de esmalte sobre um vaso de barro, os lábios amistosos podem ocultar um coração mau. Quem odeia disfarça suas intenções com lábios, mas no coração abriga a falsidade. Embora a sua conversa seja mansa, não acredite nele, pois o seu coração está cheio de maldade. Ele pode fingir e esconder o seu ódio, mas a maldade será exposta em público. Quem faz uma cova, nela cairá; se alguém rola uma pedra, esta rolará sobre ele – (26.22-27). 


Soli Deo Gloria


Texto do pr. Ricardo Gondim

10 comentários:

  1. Olá Paulo,
    Cruel é saber que existem vários maledicentes na nossa sociedade e muitas vezes na nossa própria família. Devemos sim tocar nossas vidas e procurar vivenciar os ensinamentos do Mestre Jesus que optava sempre pelo amor, lógica e no equilíbrio do ser. Por isso, sinceramente, não acho um bom caminho voltar ao puritanismo inglês (da rainha Vitória), como também concordo, no campo da sexualidade, que hoje ocorrem muitos excessos e isso não é bom tanto para a matéria como para o espírito. Temos que achar um ponto de equilíbrio que reside sempre no bom senso!

    Abraços, Flávio.
    --> Blog Telinha Critica <--

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    1. Uma coisa que me fez refletir nesse texto é algo sutil, mas que é de extrema profundidade, é nessa passagem de Provérbios, onde cita isto, que Deus abomina todo aquele que é maledicente, que faz fofoca, que vive de levar e fazer intrigas, e é justamente isso que passa batido, pois para nós pecados mortais seriam vícios, violência, e outras coisas dessa natureza.

      Abraço pra ti.

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  2. Duro que esse tipo de gente é o que mais tem por aí! Maledicente e invejoso!!!!

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    1. Bicho, tá cheio mesmo, e esse tipo de gente á o chamado 'espírito de porco', uns sacanas, kkkkk

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  3. Oi Cheng,

    Tudo bem? Penso que essa questão é integrante do mundo, assim, como todas as limitações humanas. Então, entendo as imperfeições humanas e como cristã, oro para que seja possível o amadurecimento.

    Bom final de semana e beijos para ti e Michel.

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    1. Todos somos falhos querida Lu, mas tem pecados ou falhas que são detestáveis, insuportáveis, e a maledicência é uma dessas mazelas que fazem com que a pessoa perca a alma, pois ela se torna invejosa, amarga, uma abominação até para Deus.

      Um abração pra ti.

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  4. Paulo, é esse equilíbrio, amparado no bom senso, que o ser humano precisa buscar. A humanidade avançou muito no campo do conhecimento material, porém, no espiritual vive um atraso enorme. Um grande abraço.

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    1. Concordo contigo PC, e esse amadurecimento também precisa ser na área emocional, e em todos os sentidos, pois o respeito ao outro é a base para todos os relacionamentos lograrem êxito.

      Abç.

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  5. Antônio, fico feliz por ter encontrado meu site e agradeço a visita, e vou dar um pulo lá no seu pra conferir seu trabalho.

    Um abração pra ti.

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  6. Oi Paulo meu irmão de fé
    Obrigada pelas palavras sempre carinhosas, e não, eu não pretendo largar o serviço público kkkkkkkk, eu disse que tenho vontade, mas tenho medo, então não o farei, pode ficar tranquilo meu amigo, mas valeu pela preocupação. Quanto ao texto, sinceramente, não sou tão fã do Ricardo Gondin quanto vc, acho que ele é mais um, mas não quer dizer que ele não escreve bem sobre alguns temas, e esse tema ele escreveu muito bem!
    Bjão. Fique com Deus!

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