Pr. e escritor Ricardo Gondim |
Não vamos falar de uma iniquidade que Deus odeia, ou melhor, que
ele abomina? O livro de Provérbios é categórico:
Estas seis coisas aborrece o Senhor, e a sétima a sua alma abomina: olhos
altivos, a língua mentirosa, e mãos que derramam sangue inocente, e coração que
maquina pensamentos viciosos, e pés que se apressam a correr para o mal, e testemunha falsa que profere
mentiras,
e o que semeia contendas entre irmãos – Provérbios 6.16 9. (o grifo é meu).
e o que semeia contendas entre irmãos – Provérbios 6.16 9. (o grifo é meu).
Deus odeia toda maldade que gera morte, mas detesta, abomina,
maledicência, calúnia, boataria. O Senhor execra a difamação com veemência. Por
que não se combate precisamente o mal que pode desencadear a ira divina? O nono
mandamento da Lei de Deus não deixava dúvida, Javé não tolera quem semeia
suspeita: “Não dirás falso
testemunho contra o teu próximo”.
Por que Deus aborrece a maledicência com tanta força?
Porque o maledicente só desopila o baço quando, insatisfeito em
arranhar uma reputação, busca destruir uma história. O caluniador crava as
unhas na vida de pessoas que admira com ânsia de matar.
Porque o maledicente fuça a intimidade alheia para suscitar
o que não presta. Para isso gosta de ambientes mal cheirosos. É hiena com
fome de carniça. O caluniador se alimenta de notícias estagnadas. Ele sabe
revolver as fossas do passado – fossas podres. O mundo do caluniador
rodopia em frases retalhadas de eventos que deveriam jazer no mar do
esquecimento. Quando retalha conversas, pinça revelações de contextos íntimos;
e joga ao vento com o intuito de arrasar.
Porque o maledicente se contenta em sussurrar meias verdades.
Ele aumenta, nunca inventa. Sua especialidade é imaginar. Evita o risco da
calúnia com vagas insinuações. Fantasia, e espalha como fato, o que suspeita. O
difamador não passa de rato. Seus movimentos são ágeis pelos esgotos da dúvida.
Seu mundo necessita de penumbra; suas alucinações não resistem à
luz. Necessita de lusco fusco para que todos fiquem pardos.
Porque o maledicente é escorregadio. Adora o discurso
conservador para se proteger de atos falhos, de pequenas escorregadelas. É
ortodoxo. Gosta de discutir literalidade; detesta a sua subjetividade. Montado
em lógicas incontestes, evita que outros percebam o desconforto que nutre
consigo mesmo. A fofoca espalhada serve para esconder a alma exangue do
detrator. Como diz José Ingenieros, ele quer empanar “a refutação alheia para diminuir
o contraste com a própria”. Quando sugere a dúvida, acredita que a sua
leviandade diminuirá o discernimento das pessoas.
Por que o maledicente precisa de cúmplices. Ele só age em
quadrilha. Amparado por gente de coração diminuto, espalha o vírus da notícia
imprecisa. Procura não aparecer. Basta esperar que a informação suspeita se
espalhe pela boca rancorosa de simplórios. A maquinação da maldade não carece
de sua supervisão. E não falta gente baixa. Sobra quem se deleita em assistir
ao espetáculo de uma biografia enxovalhada na sarjeta. Ele se delicia em
saber que outros terminaram o serviço sujo que ele só começou. Desdenha a
Bíblia, que tanto repete: “Não
se alegre quando o seu inimigo cair, nem exulte o seu coração quando ele
tropeçar…”.
Porque o maledicente saliva na iminente derrocada de quem,
na verdade, admira. Depois que sabe da desgraça se refastela. Seu sorriso tem
uma satisfação satânica. Ele deseja o que o outro desfrutava. Seu ódio é
proporcional à admiração. Agora, acredita que não existe mais ninguém acima de
si. A língua é fogo, muitas vezes incandescida pelo inferno. A língua produz um
mundo de iniquidade e só precisa de uma fagulha para incendiar o curso de
uma reputação. Para acabar com alguém, bastam uma breve insinuação, um cenho franzido,
um gesto hesitante.
Porque o maledicente é dono de uma perfídia maldosa. Ele é
mestre nas perguntas capciosas. Sua intenção é ouvir o segredo e deixar
pontos de interrogação no ar: “Será?”;
“Foi assim mesmo?”
Para isso, oscila sordidamente entre a piedade e a detração. Com a mesma língua
bendiz a Deus e amaldiçoa a história de alguém criado à imagem e semelhança do
Deus, que ele jura adorar. Se não consegue destruir a biografia, o
testemunho observado objetivamente, o caluniador questiona as intenções.
Gosta de fazer juízo de valores porque a subjetividade é frágil. Vale-se de
seus esgotos interiores para julgar e sentenciar. Davi pecou, mas teve a
graça de escolher que tipo de punição sofreria. “Prefiro cair nas mãos do Senhor, pois grande é a sua misericórdia,
a cair nas mãos dos homens”. O padre Antônio Vieira comentou a
passagem: “O juízo dos
homens é mais temeroso do que o juízo de Deus; porque Deus julga com
entendimento, os homens julgam com a vontade”.
Porque o maledicente nunca quer ser justo. Sua verdade nasce da
sua antipatia. Indisposto, exerce um juízo manchado de inveja. Mal discerne que
suspeita, dúvida e sentença veem contaminada com aversão. O acusador não quer
saber que encarna a perigosa serpente do Apocalipse e que terá o mesmo destino.
Porque o maledicente, antes de apontar o dedo, esquece de
Provérbios: As palavras
do caluniador são como petiscos deliciosos; descem saborosos até o íntimo. Como
uma camada de esmalte sobre um vaso de barro, os lábios amistosos podem ocultar
um coração mau. Quem odeia disfarça suas intenções com lábios, mas no coração
abriga a falsidade. Embora a sua conversa seja mansa, não acredite nele, pois o
seu coração está cheio de maldade. Ele pode fingir e esconder o seu ódio, mas a
maldade será exposta em público. Quem faz uma cova, nela cairá; se alguém rola
uma pedra, esta rolará sobre ele – (26.22-27).
Soli Deo Gloria
Texto do pr. Ricardo Gondim
Olá Paulo,
ResponderExcluirCruel é saber que existem vários maledicentes na nossa sociedade e muitas vezes na nossa própria família. Devemos sim tocar nossas vidas e procurar vivenciar os ensinamentos do Mestre Jesus que optava sempre pelo amor, lógica e no equilíbrio do ser. Por isso, sinceramente, não acho um bom caminho voltar ao puritanismo inglês (da rainha Vitória), como também concordo, no campo da sexualidade, que hoje ocorrem muitos excessos e isso não é bom tanto para a matéria como para o espírito. Temos que achar um ponto de equilíbrio que reside sempre no bom senso!
Abraços, Flávio.
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Uma coisa que me fez refletir nesse texto é algo sutil, mas que é de extrema profundidade, é nessa passagem de Provérbios, onde cita isto, que Deus abomina todo aquele que é maledicente, que faz fofoca, que vive de levar e fazer intrigas, e é justamente isso que passa batido, pois para nós pecados mortais seriam vícios, violência, e outras coisas dessa natureza.
ExcluirAbraço pra ti.
Duro que esse tipo de gente é o que mais tem por aí! Maledicente e invejoso!!!!
ResponderExcluirBicho, tá cheio mesmo, e esse tipo de gente á o chamado 'espírito de porco', uns sacanas, kkkkk
ExcluirOi Cheng,
ResponderExcluirTudo bem? Penso que essa questão é integrante do mundo, assim, como todas as limitações humanas. Então, entendo as imperfeições humanas e como cristã, oro para que seja possível o amadurecimento.
Bom final de semana e beijos para ti e Michel.
Todos somos falhos querida Lu, mas tem pecados ou falhas que são detestáveis, insuportáveis, e a maledicência é uma dessas mazelas que fazem com que a pessoa perca a alma, pois ela se torna invejosa, amarga, uma abominação até para Deus.
ExcluirUm abração pra ti.
Paulo, é esse equilíbrio, amparado no bom senso, que o ser humano precisa buscar. A humanidade avançou muito no campo do conhecimento material, porém, no espiritual vive um atraso enorme. Um grande abraço.
ResponderExcluirConcordo contigo PC, e esse amadurecimento também precisa ser na área emocional, e em todos os sentidos, pois o respeito ao outro é a base para todos os relacionamentos lograrem êxito.
ExcluirAbç.
Antônio, fico feliz por ter encontrado meu site e agradeço a visita, e vou dar um pulo lá no seu pra conferir seu trabalho.
ResponderExcluirUm abração pra ti.
Oi Paulo meu irmão de fé
ResponderExcluirObrigada pelas palavras sempre carinhosas, e não, eu não pretendo largar o serviço público kkkkkkkk, eu disse que tenho vontade, mas tenho medo, então não o farei, pode ficar tranquilo meu amigo, mas valeu pela preocupação. Quanto ao texto, sinceramente, não sou tão fã do Ricardo Gondin quanto vc, acho que ele é mais um, mas não quer dizer que ele não escreve bem sobre alguns temas, e esse tema ele escreveu muito bem!
Bjão. Fique com Deus!