Friends are friends forever...

Paul, Kevin e Winnie, do seriado 'Anos Incríveis'.

Há uma belíssima musica de Milton Nascimento onde ele poetisa: “amigo é coisa pra se guardar, no lado esquerdo do peito, dentro do coração…”, e na Bíblia também faz uma menção em Provérbios: “o homem de muitos amigos deve mostrar-se amigável, mas há amigo mais chegado que um irmão”.

Qual o valor de uma amizade nos dias de hoje? Por que os relacionamentos são tão voláteis e, na maioria das vezes, resume-se a troca de mensagens virtuais na internet ou rápidas ligações no celular?

Antigamente a amizade era tida em alta estima. Era mais valorizada. Gastava-se mais tempo com os amigos. Os tempos eram outros. Amigos conseguiam conservar seus relacionamentos até por décadas, apesar dos seus autos e baixos.

Amizade, a meu ver, é um relacionamento onde primeiramente tem que haver afinidade. Aquela história do Roberto Carlos de ter um milhão de amigos soa bonito só musica dele. Não conseguimos ser amigo de todo mundo que conhecemos (amigo no sentido mais profundo da palavra). Também funciona como uma via de mão dupla. Temos que transitar por esse binômio, dar para receber. Uma amizade onde só cobramos e exigimos não é amizade, e sim parasitismo.

Se queremos conservar uma amizade, devemos ter em mente que as decepções são inevitáveis. As pessoas são falhas e sempre decepcionam uma as outras, devemos fugir de suscetibilidades.
Deve-se haver uma doação sem esperarmos uma contrapartida de retorno. Todas as vezes que fazemos algo em troca de uma resposta no mesmo nível, nos frustramos quando não há retorno, e o relacionamento vira barganha e tende a esfriar.

Os amigos devem ser acima de tudo, sinceros. Prefiro me magoar por um amigo que me diz na cara uma verdade (e às vezes a verdade nos traspassa como um punhal afiado) do que um que fica sempre elogiando e dando tapinhas nas costas e ao mesmo tempo condenando a amizade à superficialidade.

Vivemos em uma época em que a sociedade vive sob o imperativo da eficiência e do consumismo. A ampulheta, sempre engolindo o tempo a largos sorvos, impede as pessoas de solidificarem os relacionamentos sob o pretexto de que “o tempo está corrido”, “ando trabalhando e estudando demais”. Resta então suprir essa deficiência através da internet.

A internet, por sua vez, que deveria suprir essa carência nos relacionamentos, deixou as comunicações frias, mais distantes e sem calor humano.
A internet é uma excelente ferramenta e deveria aprofundar e reaproximar os relacionamentos afetados pelo ritmo frenético do cotidiano e pela distancia física. Para o meu desencanto, o que mais vejo na net, através das redes sociais, são relacionamentos superficiais, sem profundidade ou laços emocionais mais viscerais. Tudo se resume a mensagens monossilábicas, cartões eletrônicos (que não sou muito fã), bobagens e mais bobagens. Não que não deva existir descontração e brincadeiras, mas que o verdadeiro sentimento de amizade fosse resgatado, mesmo virtualmente.

Respondendo à pergunta que fiz no início, o valor de uma amizade hoje em dia é pouco ou quase nada valorizado. Devido às prioridades que as pessoas assumem como trabalho, carreiras, dinheiro etc., que não deixa de ser importante, pois precisamos trabalhar, planejar e correr atrás dos nossos sonhos, mas não é correto supervalorizar isso ao extremo. As coisas acontecem no momento certo. É só fazermos a nossa parte. Diante disso, as amizades ficam relegadas a segundo plano, puramente convencional.

Não partilho essa visão. Continuo acreditando no valor transcendental da amizade. Procuro conservar as poucas que são antigas e amealhar novas (mesmo que sejam virtuais). Sei que sou decepcionado e que também decepciono bastante “quem é perfeito?”. Acima de todas as complexidades que envolvem um relacionamento, compartilho com o Milton que amigo é coisa pra se guardar, do lado esquerdo do peito…

Dedico este meu texto a meus novos amigos Internáuticos que estão mais presentes em minha vida do que aqueles que me circundam:

Paulo Cheng