quinta-feira, 10 de abril de 2014

Trânsito brasileiro: verdadeira praça de guerra

Desenho extraído da internet 
Episódio um: um trânsito congestionado, um empresário se arrasta ao trabalho na sua Hilux 2014, zero bala, no corredor que se forma para os motociclistas passarem, um motoboy não consegue desviar e colide com a Hilux, arranhando o retrovisor, o motorista, já estressado, desce e começa a xingar o motoboy, dizendo que o mesmo vai pagar um retrovisor novo, e não satisfeito, o empresário volta ao carro, se mune de uma barra de ferro e começa a golpear o motociclista, que, sem poder se defender, cai no chão desfalecido de tantos golpes recebidos.


Episódio dois: um trabalhador se acorda cedo, e, às 5 da manhã, sai de casa para o seu trabalho de bicicleta, 20 minutos depois, antes de chegar ao serviço, um carrão possante, dirigido por um rapaz de classe média alta, embriagado, vindo de uma balada, vem a velocidade de 110 km/h, avança o semáforo vermelho, e mais a frente bate no trabalhador que ia ao seu serviço de bicicleta e segue em frente, sem parar e prestar socorro, o trabalhador, mesmo levado ao hospital, vem a óbito horas depois.

Episódio três: final de tarde, um trânsito congestionado, os motociclistas, aproveitando cada centímetro cúbico de espaço, aproveitam para driblar os carros e levarem vantagem, nos corredores, as motos avançam à toda velocidade, e, um motociclista tenta entrar no corredor sem esperar ou sinalizar, colide com outra moto, o motociclista que vinha no corredor, com o impacto, cai da moto, bravo, vai ao encontro do outro, tira o capacete, e, como uma arma, começa a bater no causador do abalroamento, o segundo, também retira o seu capacete e revida, e a cena fica grotesca, dois motociclista com os capacetes nas mãos se agredindo em plena via pública.

Estas situações foram hipotéticas, eu as criei para o texto, mas são cenas que, cotidianamente presenciamos em jornais e demais meios de comunicação. O que mostra que, as nossas estradas e rodovias são frequentemente assimiladas a campos de guerra, onde se matam mais do que inúmeras guerras civis ao redor do mundo. Mas por que os condutores brasileiros são tão estressados? Por que pessoas normais, de uma hora pra outra, se transformam em potenciais assassinos sem motivos aparentes? De onde vem toda essa fúria represada que entra em erupção em fração de segundos no trânsito brasileiro?

Bem, algumas respostas para as perguntas acima ficarão sem resposta, ou parcialmente respondidas nesse texto. Não quero ser o dono da verdade, mas a gênese de toda essa situação caótica em nosso trânsito é vária, que percorre desde o estado psicológico até de índole ou cultura. O estress é algo que acomete todo ser citadino hoje em dia, quem mora nos grandes, e até médios centros urbanos, tem que conviver com uma rotina estressante de barulho, poluição, lentidão nas vias urbanas, violência, dentre outros fatores, e, tudo isso somado, faz com que as pessoas, sem um cano de escape certo que direcione isto, canalizem para as pessoas erradas, nos momentos mais inusitados. Nós somos  seres vivos que oscilam entre extremos, somo considerados com seres pensantes (homo sapiens), podemos ser protagonistas das ações mais majestosas e louváveis, mas também podemos descer às regiões abissais da bestialidade sem qualquer pudor ou vergonha.

A violência que acontece no trânsito brasileiro mostra que, as várias variáveis que levam as pessoas a cometerem violência gratuita, faz com que sejamos pessoas desumanas, insensatas e violentas em momentos distintos.  Podemos beijar os nossos filhos carinhosamente antes de sair de casa, e meia hora depois podemos ser autores das mais bizarras atrocidades no trânsito, simplesmente por que um carro bateu em nossa traseira ou um motociclista arranhou o nosso retrovisor. A mente humana é um poço de interrogação, pois compreender esses mecanismos é algo dificílimo. Como pessoas normais, de boa índole e com um coração altruísta, de repente, por um motivo banal, pode até cometer um crime ao seu semelhante por motivos banais e insignificantes?

Há pessoas que têm uma índole perversa, no qual, sem qualquer resquício de amor ou compaixão, não hesitam em agredir gratuitamente outras pessoas, independente dos motivos, porém, há outras pessoas que, mesmo não tendo um histórico de agressão e respeitando o próximo na maior parte do tempo, podem perder o autocontrole numa situação de intenso estress, e, mesmo que essa situação de explosão de sentimentos possa ocorrer em alguns segundos, dependendo da ação, as consequências podem ser nefastas e durarem pelo resto de suas vidas.

Sem querer me delongar no texto, pois é um assunto abrangente e complexo, creio que a educação para o trânsito de forma preventiva e maciça poderia amenizar e evitar inúmeras situações violentas em nossas estradas; o amor e o respeito incondicional para com o próximo é outro fator que, se estivesse arraigado na maioria das pessoas, poderia surtir efeitos positivos em situações de alto estress e não levar algumas pessoas a usarem de violência contra o outro; a infraestrutura de nossas rodovias e estradas também contribui para que esse caos generalizado recrudesça de forma ininterrupta, onde, sem haver um trânsito descongestionado, faz com que os engarrafamentos e o tempo perdido neles tirem as pessoas do sério levando-as a cometer atos insanos e violentos.

Não há uma solução à vista para toda essa problemática, contudo, resta a cada um de nós não somente reprovar essa violência que é cometida em nossas estradas, mas nos policiarmos para que, se porventura estivermos numa situação semelhante no trânsito, agirmos com sabedoria, calma e muita cautela, mesmo se os outros envolvidos não tenham a mesma paciência ou sabedoria, é fácil falar, pois no calor do momento é que podemos medir a nossa capacidade de agir sabiamente em situações estressantes, porém, é bom começarmos preparar as nossas mentes para o inevitável.


Paulo Cheng

9 comentários:

  1. Paulo, meu amigo de fé!
    E como este tema tem me preocupado...
    ...

    Gostei muito de como você abordou o tema, em episódios fictícios, mas nem tanto, visto que casos muito semelhantes ocorrem todos os dias. E depois sua opinião como fechamento.
    Difícil entender algumas coisas no que diz respeito ao trânsito caótico que temos... onde tudo pode acontecer a qualquer momento. E o que sei é que tudo é muito rápido... já perdi amigos e conhecidos a causa disso...

    Parabéns pela condução segura no texto! (tive que fazer esse trocadilho) :)

    Grande abraço para ti e a Michel!

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    1. Ah! Agradeço pelas palavras lá no blog, um baita incentivo para mim!
      :)

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    2. Cissa amigona, esse texto foi inspirado na sua penúltima postagem em seu blog, e fique ruminando esse tema em minha mente, e decidi escrever sobre o assunto, e um tema que me preocupa também, pois sou um dos milhares condutores desse nosso caótico transito, e temo demais ser vítima de uma situação dessas, pois não sabemos quem está do outro lado do volante.

      Obrigado pelo comentário e Michel retribui o abraço.

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  2. O trânsito realmente parece um campo de guerra. Xingões, gritos, buzinadas, Todos com ânimos alterados, estressados! Pena! Até quando?

    abração, lindo fds! chica

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  3. verdadeiros predadores do asfalto, vítimas de uma corrida que é apenas metáfora do que a vida exige do homem e para a qual ele se não prepara...

    tema premente e abordagem lúcida, caro amigo, como invariavelmente sucede por aqui.

    um abraço e votos de uma excelente páscoa!

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    1. "Predadores do asfalto", concordo, e a que ponto chegou as nossas vias, e agradeço pelo comentário gentil de sempre Jorge, uma ótima Páscoa pra ti e família.

      Abração.

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  4. Parabéns pela excelente explanação do assunto!

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    1. Ivani querida, muito obrigado pela leitura e comentário, acho que você entende um pouco disso na pele, sabe o que estou falando, rs.

      Abração pra ti.

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