quinta-feira, 27 de abril de 2017

A irrelevância da relevância



Já vaticinara o dito popular: “em terra de cego, quem tem um olho é rei”, é uma máxima datada, conhecida, porém que carrega em seu bojo um profundo ensinamento implícito, onde podemos traduzir tal analogia com a mentalidade e disposição das sociedades de hoje, sim, em sociedades cegas pela insensatez e demência, quem tem um olho se torna rei.


Até onde vale à pena ser relevante em uma sociedade estupidificada pela superficialidade? Vale à pena se levantar como bastião da justiça em meio a uma sociedade injusta? É relevante se levantar como profeta da última hora e, com voz altissonante, ressoar a verdade numa sociedade no qual está conscientemente imergida no erro e na devassidão? Até onde vale à pena nadar contra a correnteza, caminhar na contramão, e tentar, a fórceps, abrir aos ouvidos de pessoas surdas pela insipiência e imbecilidade?


Vivemos em um mundo onde os valores estão deturpados, em que a ética e a moral viraram peças obsoletas em desuso, no qual a relativização das coisas dita as regras de comportamento, e onde o certo é errado, e o errado é certo. Termos como “politicamente correto” têm estupidificado sociedades, onde as pessoas são tolhidas de se expressarem, de se posicionarem contra qualquer coisa, por medo de serem taxadas inflexíveis, intolerantes e fomentadoras de ódio. Se posicionar contra o que quer que seja hoje em dia é tido como “politicamente incorreto”, mesmo que estejamos certos, mas para não ferir susceptibilidades, temos que aceitar tudo, mas absolutamente tudo, pois os novos valores que norteiam as sociedades privam as pessoas de se antagonizarem, ou você caminha na mesma direção da massa ignara, ou você é um rebelde e infrator, que merece ser estigmatizado à redundância.


O pensar hoje é proibido, e quando se é feito, rechaçado, hoje as pessoas estão anestesiadas, vivendo de forma superficial, sem comprometimento com causas nobres, sem sentimento de revolta frente aos casos de corrupção por parte dos políticos, e as prioridades são as mais banais possíveis, onde a TV, baladas, consumismo, farras, orgias, carnaval, redes sociais são o que absorve e cativa as pessoas. Vivemos um momento ímpar em nossa sociedade, onde os políticos num todo estão dilapidando a nossa nação, destruindo tudo e saqueando todos os nossos recursos, porém a grande massa ignara está mais preocupada com os paredões do BBB, em acompanhar as novelas globais, em compartilhar correntes e emotions no Facebook, em postar selfies no Instagram, em anelar pelo próximo feriadão, ou fazendo planos para o próximo carnaval, e enquanto isso, a nação está desmoronando ante os nossos olhos, com lei em cima de lei sendo aprovada para nos escravizar mais e mais, e os poucos que ainda mantêm a lucidez e tentam ser relevantes, trazendo a verdade á tona, são ridicularizados, onde se passam por loucos, tal qual os profetas do Antigo Testamento quando iam anunciar algum juízo divino, e as pessoas caçoavam deles, mesmo na iminência da desgraça.


Sim, nos dias de hoje, ser relevante não passa de pura irrelevância, onde quem ainda preserva um pouco de lucidez e uma visão aguçada ante o mar de podridão e obscuridade no qual a sociedade está imersa é tratado como insano. Sim, em terra de cego, quem tem ao menos uma visão turva das coisas é rei, numa majestade que jamais será alcançada por aqueles que o circunda.


Paulo Cheng


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