Superação

Photo by Paulo Cheng

A existência humana é, por si só, complexa, durante séculos vivenciamos guerras, regimes autoritários, genocídios, fome, pestes, desastres naturais, e toda a sorte de mazelas existenciais. Os infortúnios acompanham a raça humana desde os seus primórdios, e as calamidades estão presentes em nossa trajetória, por que somos vitimados pelas fatalidades? Quais as determinantes que nos conduzem ao sofrimento?

O ser humano consegue se adaptar às mais variadas situações adversas, se torna um verdadeiro camaleão, adaptando-se às situações mais antagônicas e inóspitas as quais se é submetido, e tal capacidade de adaptação é surpreendente, entretanto, há limites, por mais capacidade de adequação que tenhamos, as intempéries conseguem sugar a nossa alma de forma lenta e sorrateira, e as contingências sorvem as nossas forças de forma inexorável.

Os desertos existenciais têm o poder de nos amadurecer de forma precoce, na bonança nos acomodamos, porém, nos invernos vivenciais passamos a valorizar os detalhes mais diminutos da vida, nas guerras valorizamos a paz, na enfermidade enaltecemos a saúde, na solidão estimamos os relacionamentos, e na escassez prezamos a abastança. Na maioria das vezes só prestigiamos e damos o devido valor àquilo que perdemos ou que não soubemos aproveitar, somos ingratos e mal-agradecidos, só os infortúnios nos trazem à lucidez e nos tornam sensatos e gratos.

O sofrimento tem o poder de nos definhar, de estilhaçar as nossas esperanças, de esmorecer a nossa autoestima, não obstante, há dentro de nosso ser um sentimento de superação inato à nossa natureza, e nos momentos mais cruciais e inóspitos de nossas vidas, brota do cerne de nossa alma uma força descomunal para sobrepujar as muralhas da adversidade, há um feixe de esperança que irrompe do âmago de nossos corações e que ilumina os dias mais sombrios no qual estejamos atravessando; as contrariedades e os flagelos existenciais conspiram contra a nossa estabilidade vivencial, porém, clama em cada célula de nosso corpo uma vontade irresistível e avassaladora de transpor os obstáculos, e nos fortalece para que prossigamos a árdua jornada existencial, sem perder a fé.

                                                                                                           Paulo Cheng