quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A excitação de escrever

Ricardo Gondim

Escrevo na ânsia de enjaular as palavras na arena onde luto comigo mesmo. Deliro sobre tornar-me escritor. Penso que as palavras podem cativar o vento. A inspiração que precede a escrita me engana. Procuro cravar pensamentos diáfanos. Anseio por narrar o inenarrável. Grafo sentimentos mas o inexprimível de minha alma me escapa. Redijo para ninguém.


No texto, sou leitor tentando expelir o engasgo preso no peito. Enquanto suo a página, caço um jeito de desentranhar o que lateja em meu espírito.

Escrevo por divagação. Minhas linhas não passam de estradas por onde fantasio desejos escondidos. Inicio o texto e logo, feito navio à deriva, me perco. Nada como um ensaio para desprender antigas convicções das âncoras da certeza. Minha redação me deixa ébrio, serpenteando nas ideias. Sinto o impulso de expressar o que não passa de intuição. Apanho da escrita. Como transformar em letra as lágrimas malcriadas?

Escrevo em estado de pura nostalgia. Vestígios trágicos de anos mal vividos clamam por vingança. Na prosa, luto para resgatar o que nunca vivi, e na poesia, celebrar a beleza que me privei de contemplar. Rabisco para ressuscitar risos esquecidos. Quero retornar a lugares deixados para trás.

Escrevo com o coração estilhaçado. Quando redijo, tento remediar decepções, debelar desesperos, sarar feridas. No refúgio da palavra, unto com o bálsamo da divagação o calcanhar que rachei nas pedras do caminho. Na angústia de corrigir, revisar, apagar, re-escrever, talvez encontre terapia. Ao tentar fazer literatura vislumbro como a excelência se distancia de mim. No desafio de cinzelar algumas frases, noto o absoluto além do meu alcance.
Escrever significa abraçar o desafio de superar-me, consciente da minha própria mediocridade – a palavra ameaça mania de grandeza. Crônicas, ensaios, poemas, novelas, romances, me afastam do falso deus que imaginei ser para aproximar-me do Verbo que se fez gente.


Soli Deo Gloria

Texto do pr. e escritor Ricardo Gondim

5 comentários:

  1. Oi Cheng
    É isso mesmo! Muito bom o texto do Pr., escrever para mim é uma terapia, depois que comecei, não consigo parar mais, é quase um vício kkkkkkkkkk. Vou tentar fazer o que vc falou com relação a atualização do blog, tomara que dê certo.
    Bjão para ti e para Michel!
    Fiquem com Deus!

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    1. Olá querida Lu, também sou fã da escrita do Gondim, e sempre estou postando algo dele por aqui. Vê se assim resolve esse problema, tentei descobrir aqui mas não consegui.

      Abração pra ti.

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    2. Oi Cheng
      Não sei se percebeu, mas tem mais gente passando pela entrevista do Daniel, fez sucesso einh?! Também a mamãe aqui, só faltou fazer um cartaz luminoso no blog kkkkkkkkkk.
      Bjos.

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  2. Ótimo o texto... só que como recebo por e-mail primeiro e, na maioria das vezes não abro a foto, só vi que não era teu, Paulo, quando cheguei ao fim... confesso que fiquei desapontada... rssss

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  3. Meu caro Paulo, toda vez que você nos oferece aqui, um texto do Ricardo Gondim, percebo em cada leitura dele, concordando ou não com determinados pontos, e nesse caso, isso para mim é o que menos importa quando observo suas colocações, é a maneira como se torna convincente e verdadeiras as suas palavras. Isso é a mais pura característica de quem escreve com alma e deixando o coração falar. Esse é caso do Ricardo. Muito bom!

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