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Foto by Paulo Cheng |
“Allah-lá-ô, ô ô ô ô ô ô, mas que calor, ô ô ô ô ô ô,
atravessamos o deserto do Saara, o sol estava quente e queimou a nossa cara...”, e assim prossegue Brasil afora as festividades
de momo, onde a palavra de ordem é alegria, divertimento e muita, mas muita
animação, é a festa do povo onde as diferenças, a cor, o sexo, o status social
e a raça se fundem num todo aglomerado, onde a chusma se esquece de tudo e cae
na folia, como se o mundão fosse acabar a manhã.
O que mais me impressiona
no Brasil são justamente os antagonismos, e esse paradoxo de consciência onde,
mesmo em momentos obscuros, as pessoas se desligam da realidade e adentram em
um mundo de faz de contas e, mesmo de forma efêmera, conseguem extrair alegria da
tristeza, bonança da escassez, e se entregam à folia como se a nossa nação
estivesse dentre as nações com o maior índice de IDH do planeta. Em outros textos
já expus minhas impressões sobre o carnaval, porém, neste texto, quero abordar
como as pessoas conseguem, mesmo vivendo em situações extenuantes, mesmo
desempregadas, mesmo enfrentando crises das mais variadas possível, contribuir
para com uma festa que, no fim das contas, não acrescentou nada à nação, no
máximo, reforçar para o mundo a condição de um país que, mesmo em meio à
pobreza, corrupção e fome, consegue fazer um carnaval onde amealha milhões e
milhões de pessoas nas ruas, bebendo, se drogando, enfim, se divertindo.
O Brasil é o país onde a
corrupção ultrapassou todos os limites do inimaginável, é o país mais corrupto
do planeta, onde estão os políticos mais desonestos do mundo; onde as políticas
sociais, a cada momento só conspiram contra a população; aonde a educação vai
de mal a pior; onde a saúde está em uma pedra fria de um necrotério; onde a
população tem que trabalhar e contribuir por quase 50 anos para se aposentar;
onde o salário mínimo não dá para suprir nem 30% das vicissitudes básicas de
uma família; onde a população, desarmada por conta da maldita Lei do
Desarmamento, está entregue à bandidagem e no qual o Estado não consegue dar
condições de segurança minimamente; onde o marxismo cultural tenta, vorazmente,
destruir os valores da família, da igreja, e dos costumes ético-morais de nossa
sociedade; onde o desemprego tolhe o poder de compra e a dignidade de mais de
12 milhões de brasileiros; e onde as riquezas minerais são vendidas ou dadas de
graça aos estrangeiros por conchavos políticos, dentre outras coisas.
Intriga-me a sociedade
brasileira estar passando por um momento que, creio eu, seja o mais delicado da
história, onde o Executivo, Legislativo e o Judiciário, em complô, se
intercalam para cercear os direitos dos cidadãos de bem assim como aniquilar os
valores mais basilares e conservadores de nossa sociedade e ver mais da metade desta sociedade submergir em uma festa que dura quatro dias. Deixa-me perplexo o
fato de uma nação está em frangalhos, onde nada, absolutamente nada funciona, e
ainda assim, a parte majoritária desta população mergulhar em uma festa como se as
coisas aqui funcionassem a contento como na Dinamarca, Finlândia ou Suíça, e ver como o doce aroma do lança-perfume da euforia, e o inebriante fragor da magia de momo
conseguir anestesiar quaisquer sentimentos de indignação ou lucidez dessas
milhões de pessoas que veem no carnaval um momento para extravasar toda a sua
insatisfação e indignação por viverem em uma nação onde corrupção, a violência
e a maldade subjugam a população como um todo. É a fuga de uma realidade
excruciante que, na quarta-feira de cinzas, sobrevém de forma cruel e perversa,
conclamando cada folião a se despir de suas fantasias e instrumentos, a
assumirem seus papeis na sociedade, onde quem está desempregado continuará a
sua sina amarga para conseguir um lugar ao sol, onde o comerciante e proletário
retomará sua rotina excruciante em ônibus lotados, trabalho exaustivo e um
salário pífio, sim, o carnaval pode até ser bom para muitos, contudo, o que
está por vir em nada combina com a magia, a fantasia e os harmônicos ritmos que
embalam os quatro dias de momo, onde mais uma vez, o Brasil mostrará ao mundo
como é que se faz um verdadeiro carnaval, mesmo que este mesmo Brasil esteja
uma verdadeira merda e descendo esgoto abaixo.
Paulo Cheng
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