quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Carnaval: o doce ópio do povo

Imagem extraída da internet
Falar sobre carnaval é falar sobre antônimos, antíteses, ou você gosta ou não, é extremos, ninguém fica indiferente a essa festa que dura 4 dias (em tese, pois em alguns estados dura o mês todo de fevereiro) e paralisa a nação de um modo geral, tudo para e dá passagem a essa festa, que amealha pessoas de níveis sociais, culturais, ideológicos e filosóficos distintos, é uma festa popular, será?

Não vou adentrar na historicidade do carnaval, de onde surgiu, onde é comemorado, nem muito menos se é lícito, pecaminoso ou não, mas gostaria de tecer algumas palavras sobre o poder e fascinação que esta festa gera na vida das pessoas, e suas consequências imediatas. O carnaval, como frisei acima, é uma festa que, oficialmente começa no sábado de Zé Pereira e só termina na quarta-feira de cinzas, toda a nação para literalmente em função dela, a indústria, o comércio, o funcionalismo público, interrompem suas atividades em prol deste feriadão prolongado, resultado, são 4 dias que a nação deixa de gerar renda e riqueza e onde os governantes gastam milhões e milhões patrocinando a folia de momo Brasil afora, se esse dinheirão todo que é investido tem retorno ou não, que você julgue por si mesmo.

O carnaval é uma festa onde os excessos são explorados em toda a sua totalidade, uma época onde as pessoas deixam extravasar os sentimentos e atitudes que, em momentos normais, não externariam. É um momento onde a sensação de liberdade é confundida com libertinagem, as pessoas, ou boa parte delas (sem querer generalizar, que fique bem claro) pensam que podem tudo, onde quebrar os tabus e comportamentos ético-morais é palavra de ordem, e o céu é o limite. É um momento onde é atenuado por extremos, ao mesmo tempo em que as pessoas põem pra fora todo o seu lado bom e alegre, também expõem seu lado mais sombrio, bestial e antissocial.

O carnaval é um momento onde, por 4 dias, as pessoas se desligam da realidade, dura, estafante, estressante e caótica para darem lugar as fantasias, sonhos, utopias e desejos reprimidos. Karl Max, certa vez disse que a religião era o ópio do povo, parafraseando-o, diria que o carnaval é o ópio do povo para fugir de uma realidade predatória e discriminatória que é a nossa, onde por um momento, as pessoas tentam esquecer-se das dívidas, da rotina massacrante, do desemprego, do salário apertado, do condomínio vencendo ou vencido, das horas e horas passadas nos engarrafamentos dos grandes centros, enfim, da vida extenuante e difícil que vivemos no dia dia. Mesmo que este breve momento utópico dure somente quatro dias, e que a quarta-feira de cinzas retorne com a dura e sufocante realidade cotidiana, que pelo menos seja eterno esses dias enquanto durem.

A quarta-feira de cinzas é mais que ingrata, é real, e quando o anestésico eufórico se dissipa, esvai-se todas as fantasias e quimeras alimentadas nos dias de folia, e o choque de realidade é um balde de água fria que abruptamente assola a todos. Os dias de diversão e fantasias, de uma hora pra outra dão lugar á vida na selva de pedra, onde as árduas horas de trabalho, de estudos, e as mazelas do cotidiano sugarão as forças, tornando-nos meros robôs em uma sociedade mecanizada, fria e robotizada. O saldo dos dias de folia de momo são diversos, para alguns, renovação de forças e gás renovado para voltar à rotina, para outros, frustração, perdas, relacionamentos em frangalhos, traições, corpos extenuados devido aos excessos provocados pela bebida e drogas, e um gosto amargo de cabo de guarda-chuva na boca, mas afinal de contas, é carnaval, é a festa do povo, e ano que vem tem mais...


Paulo Cheng

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