Estabilidade

Imagem extraída da internet

Um emprego público, uma gorda conta bancária, um salário alto, uma saúde de ferro, uma família estabilizada, enfim, o conceito de estabilidade no qual conhecemos e nutrimos percorre os âmbitos financeiro, material, profissional, afetivo, dentre outros, e tal situação nos coloca em uma zona de conforto, nos dando uma sensação de segurança, autoconfiança e tranquilidade. Mas será que realmente estamos estáveis? Há alguma estabilidade que resista às intempéries da vida?

Há exatos 33 dias (10/07/2018), eu larguei do meu plantão noturno, e vindo para casa em minha motocicleta, um outro motociclista foi tentar me ultrapassar pela minha direita, no que emparelhou a sua moto com a minha, eu freei bruscamente, perdi o controle e derrapei, caindo a moto em cima do meu joelho esquerdo, resultado, o joelho inchou na hora, e passei 25 dias de atestado médico, tendo sido necessário duas pequenas cirurgias (punções), fora o transtorno de ficar em casa, gastos com medicação e ter interrompido minha rotina de exercícicios físicos, isso por que, graças á Deus não houve nenhuma fratura nem rompimendo de ligamentos, foi só o trauma.

Expus acima de forma resumida o meu recente acidente para demonstrar que, de uma hora para outra somos assolados por inúmeras variáveis que fogem ao nosso controle, e tais imprevisibilidades surgem abruptamente e nos tiram de nossa zona de conforto, de modo que, à fórceps, somos redirecionados a uma mudança brusca, repentina, e assim, obrigados a nos adaptar, mesmo que de forma temporária às novas condições a nós impostas pelas contingências; a vida nunca segue por trilhos inexoráveis, e os eventos existenciais não transcorrem de forma inamovível.

A flutuabilidade da vida, juntamente com os seus eventos, faz com que a nossa existência não transcorra estaticamente, pois caso o fosse, a mesmice e a monotonia saturaria o nosso cotidiano, e caso prevêssemos o futuro, além de tornar as nossas vidas previsíveis, estaríamos dotados de um atributo divino, o fato de antever o futuro, e somente Deus o detém, assim sendo, o amanhã, com todas as suas incógnitas e mistérios fazem da vida algo dinâmico e imprevisível, onde cada dia é diferente, cada nano evento é heterogêneo, e cada episódio é sui generis.

A falsa sensação de onipotência que nutrimos e uma pseudo atmosfera de estabilidade que veneramos podem ser estilhaçadas em fração de segundos, as várias variáveis da vida se encarregam de retirar o frágil solo da estabilidade no qual estão fincados os nossos pés e expectações. O fato de não controlarmos as casualidades e os eventos vindouros nos fazem marionetes do acaso, fantoches do imprevisto, e títeres da aleatoriedade. Não há estabilidade de fato no complexo e inconstante fluxo existencial no qual se desenrola a senda da vida, tudo é volátil, e as nossas vidas, frágeis folhas levadas pelo vento das instabilidades.

Paulo Cheng